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sexta-feira, 31 de outubro de 2025

O difícil caminho para a santidade – Lech Lechá

A vida de nosso patriarca Avraham é a saga de uma luta contínua, com provas intermináveis de fé.
Rabino Lazer Brody

“Houve fome na terra, e Abram desceu ao Egito” (Bereshit 12:10).

A vida de nosso patriarca Avraham é a saga de uma luta contínua, com provas intermináveis de fé.
Hashem lhe ordena que abandone sua terra natal e empreenda a difícil jornada rumo à Terra Prometida — ainda desconhecida — isto é, a terra de Canaã. Pouco depois de chegar a Canaã — a futura Terra de Israel — Avraham se encontra em meio a uma grave fome. Não tem outra escolha senão arrumar as malas e ir em busca de alimento e água em outro lugar.

A fome é apenas a quarta entre as dez tremendas provas de fé de Avraham (segundo Rashi).

Alguém poderia perguntar: “Por que Hashem precisava provar a fé de Avraham dez vezes? Por que provas tão difíceis — desde perseguições e o risco de morte em um forno de fogo até a Akedá, quando lhe foi pedido que sacrificasse seu único filho? Acaso Hashem não sabia que a fé de Avraham era firme?”

Hashem sabe exatamente como Avraham reagiria — com uma fé perfeita, simples, pura e sem mancha.
As provas não são para o benefício de Hashem, mas sim para o benefício do próprio Avraham.

O Rabi Nachman de Breslev explica (Likutei Moharan I:66.4) que os obstáculos que uma pessoa encontra na vida servem para aumentar o seu anseio.

Por essa razão, antes que uma pessoa alcance um progresso significativo no serviço a Hashem — especialmente na aquisição de algo vital para seu judaísmo, como o aumento da santidade — ela é provada por uma série de obstáculos.
É preciso superar tais obstáculos se quiser alcançar sua meta.
No entanto, são justamente os obstáculos que alimentam o desejo de atingir o objetivo.
Assim, eles se tornam os instrumentos que extraem da pessoa seus melhores esforços para alcançar o ganho espiritual — pois os obstáculos fortalecem o anseio.

A Guemará ensina que três coisas se obtêm mediante provas e tribulações: a Terra de Israel, a Torá e o Mundo Vindouro.

Os atos dos pais abrem o caminho para os filhos.
Como nosso patriarca Avraham teve de se esforçar tanto para obter a Santa Aliança com Hashem e a promessa da Torá e de Eretz Israel para sua descendência, seu desejo e anseio multiplicaram-se mil vezes mais.
Hashem mostrou a Avraham que tanto a fé quanto Eretz Israel não se conquistam facilmente.
As provas e tribulações apenas intensificaram o desejo de Avraham — assim como os obstáculos alimentaram o desejo de Menachem, o banqueiro, de encontrar um bom par para sua filha, que de outro modo talvez nem tivesse considerado.

Que Hashem nos conceda um anseio ardente pela santidade, que nos ajude a superar todos os obstáculos que se interpõem no caminho da Torá e de Eretz Israel. Amém.

domingo, 26 de outubro de 2025

A compaixão Divina

Hashem quer revelar-nos toda a Sua compaixão. E a quem, em especial? À pessoa que não a merece,
Grupo Breslev Israel

Hashem quer revelar-nos toda a Sua compaixão. E a quem, em especial? À pessoa que não a merece, pois a pessoa que a merece a receberá por direito, e não por compaixão Divina. Por isso, quanto menor for o nível do indivíduo, mais pode suplicar a Hashem: “Eu acredito com emuná completa que Tu queres me ajudar tal como sou, mesmo que eu seja o mais baixo do mais baixo, porque, no meu caso, Tua compaixão se revela mais do que nunca. Se não tiveres compaixão de mim, isso indicaria que Tua compaixão é finita (Deus não o permita), como se fosses Compassivo com todos, mas não comigo. Mas não é assim. Tu és um Pai Compassivo e Tua compaixão é infinita, mesmo no meu caso. E o que é que eu estou Te pedindo? Acaso estou Te pedindo que me ajudes a pecar, que me dês capacidade e recursos para continuar pecando? Não! Não quero pecar. Quero que me ajudes a viver de acordo com Tua vontade. Estou Te pedindo compaixão genuína. Tu, sem dúvida, queres e desejas ter compaixão de mim, mesmo neste momento”.

A essência da compaixão de Hashem expressa-se quando Ele concede à pessoa um estado de consciência que a impeça de pecar, tal como ensina Rabi Nachman (Likutei Moharan I, 7):

“Não há nada mais penoso do que quando o santo povo de Israel cai e peca, Deus não o permita, e o Compassivo tem piedade. Essa é a situação mais dolorosa, pois todas as aflições graves do mundo são consideradas nada em comparação com o fardo pesado dos pecados, Deus não o permita. Quando o povo de Israel cai e peca, Deus não o permita, trata-se de um fardo muito pesado, um fardo insuportavelmente pesado, como diz o versículo: ‘Como uma carga pesada, eles são demasiado pesados para mim’ (Salmos 38:5). A pessoa que conhece a santidade do povo de Israel, que sabe de onde eles provêm e que entende a espiritualidade e a nobreza do povo de Israel, sabe que eles estão absolutamente distantes do pecado e que o pecado não tem absolutamente nenhuma ligação com eles, de forma alguma, considerando a grande santidade de sua raiz, sua grande nobreza e espiritualidade. Assim, todo o sofrimento do mundo não é considerado um fardo se comparado com o peso esmagador dos pecados, Deus não o permita, que o Compassivo tenha piedade…”

A essência da compaixão — ter compaixão de Israel, a santa nação — é livrá-los do fardo pesado dos pecados. E sempre que o povo de Israel caía em pecado, Moisés, a paz esteja sobre ele, dedicava-lhes sua alma e orava por eles, como no caso dos espias e outros episódios semelhantes. Isso ocorria porque ele sabia que, de acordo com a santidade e a nobreza do povo de Israel, eles estão distantes do pecado e é absolutamente impossível que carreguem o fardo pesado do pecado. E, na verdade, como é que chegam a pecar, Deus não o permita? Isso acontece somente quando a pessoa carece de consciência espiritual, pois “ninguém peca a menos que um espírito de loucura o domine” (Sotá 3). E essa é a situação mais penosa de todas; devemos ter compaixão dessa pessoa e dar-lhe consciência espiritual, como diz o versículo: “Feliz aquele que dá entendimento ao pobre” (Salmos 41:2), pois “não há pobre exceto aquele que é pobre em entendimento” (Nedarim 41). Devemos ter compaixão dele e dar-lhe consciência.

Esse é o propósito da Criação. Hashem criou o mundo para que fosse habitado, conforme diz o versículo: “Não o criou em vão; para ser habitado o formou” (Isaías 45:18). A pessoa que não possui consciência espiritual não é considerada um ser humano. Portanto, um mundo habitado por pessoas que carecem de consciência espiritual é uma ruína desolada, tal como ensina Rabi Nachman: “O mundo deveria ser habitado por seres humanos. A essência do ser humano é sua consciência espiritual. Se a pessoa não possui consciência espiritual, não faz parte da civilização e não é considerada um ‘ser humano’ de forma alguma, mas sim está no nível de um animal com forma humana”.

Por isso, o propósito mais profundo da compaixão Divina é despertar em nós a consciência que nos restitui à nossa verdadeira humanidade, para que possamos viver como filhos de Hashem, com entendimento, pureza e proximidade a Ele.


Fonte: Breslev.com

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Bereshit: O Poder da Renovação

Ali vamos nós! Um novo ano, uma nova ideia.

Depois de vários anos traduzindo os artigos de outras pessoas sobre os ensinamentos do Rebe Nachman, este ano quero tentar algo novo: compartilhar, a cada semana, um ensinamento sobre a porção semanal da Torá ou sobre um momento especial do ano, baseado nos ensinamentos do Rebe Nachman.

Um novo ano, uma nova ideia — exatamente sobre isso eu gostaria de refletir um pouco: a ideia da renovação. Encontrar a força e a coragem para tentar algo novo ou retomar aquilo que talvez tenhamos abandonado há muito tempo.

Começar de novo.

Depois de concluirmos, há poucos dias, a leitura anual da Torá em Simchat Torá, recomeçamos neste próximo Shabat com a Parashat Bereshit.

Bereshit relata a criação do mundo e a história de Adão e Chava no Jardim do Éden, mas quero me concentrar na primeira palavra: Bereshit, que significa “no princípio”. Começar de novo.

O Rebe Nachman ensina, na última lição que proferiu em sua vida — em Rosh Hashaná do ano de 1810, poucas semanas antes de falecer durante a festividade de Sucot (Likutei Moharan II, 8) — que, ao se conectar com um grande tzadik e seguir seus conselhos e ensinamentos, uma pessoa pode alcançar uma fé plena, que consiste em acreditar na renovação constante do mundo.

Deus criou o mundo do nada absoluto e continua renovando-o a cada dia.

O poder e a inspiração para encontrar essa renovação estão nos escritos do tzadik, que possui o aspecto da profecia, um espírito divino. Todos nós podemos nos conectar com esses ensinamentos em nosso próprio nível e sentir uma nova vitalidade e renascimento por meio deles.

Este ano e este dia são uma criação completamente nova, embora aos nossos olhos pareçam iguais a ontem ou ao mês passado...

No entanto, tudo é realmente novo. Isso significa que, assim como a realidade da renovação existe constantemente no mundo, nós também podemos nos conectar com esse poder de renovação em nossas vidas, todos os dias.

Muitas vezes começamos o ano com ideias, metas e inspiração renovada, mas, com o tempo, devido a obstáculos ou à rotina diária, deixamos que esses objetivos e novas ideias se desvaneçam. Também ficamos presos aos remorsos do passado em vez de recomeçar.

É justamente por isso que a renovação (hitchadshut) é tão essencial. Não importa se eu quis estudar algo todos os dias e ontem ou na semana passada não o fiz; agora estou começando de novo, agora posso dar um novo passo à frente. Basta dizer a si mesmo: “Agora estou fazendo um novo começo!”

O próprio Rebe Nachman testemunhou que ele mesmo fazia isso muitas vezes ao dia, e nós também podemos acessar esse poder surpreendente de simplesmente recomeçar.

Esse também é um dos aspectos mais poderosos da oração ou meditação pessoal diária.

A cada dia descobrimos que nossas vidas e o que enfrentamos são diferentes, e, a cada dia, as palavras e orações de que precisamos também são novas. Podemos nos expressar novamente diante de Deus todos os dias.

Esse é um princípio fundamental que o Rebe Nachman nos ensina: não desespere, continue tentando e continue recomeçando.

Fonte: Breslev.com

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Onde estás? – Bereshi

Com olhos de emuná (fé), percebemos que tudo o que vemos, ouvimos e encontramos é uma mensagem de Hashem que nos pede que nos avaliemos: “Onde estás?”

Rabino Shalom Arush

Mas ao perguntar a Adão onde ele está, Hashem está lhe dando a oportunidade de parar, avaliar a si mesmo e esclarecer o ponto da verdade em sua mente. Hashem já conhece a resposta…

“E Hashem Deus chamou o homem e lhe disse: ‘Onde estás?’” (Gênesis 3:9).

Nossos sábios nos ensinam que os Cinco Livros de Moisés estão encapsulados no Livro de Gênesis, ou Bereshit. Nele são apresentados, de forma condensada, temas que mais tarde são desenvolvidos ao longo da Torá. Por exemplo, a pergunta em hebraico composta por uma única palavra que Deus fez a Adão – ayeka, “onde estás?” – é a base da conexão do ser humano com Hashem.

Hashem, como nos diz o Midrash, certamente sabia onde Adão estava.

Mas ao fazer a pergunta, Hashem estava dando a Adão a chance de parar, refletir e esclarecer a verdade em sua própria mente. Hashem já conhece todas as respostas, mas deseja que nós mesmos descubramos a verdade, para que possamos compreender o que está acontecendo em nossas vidas. Hashem está perguntando a Adão: “Teu pecado foi um acidente, ou tens a intenção de continuar pecando?”

A resposta de Adão parece, à primeira vista, estranha (Gênesis 3:12): “A mulher que me deste, ela me deu da árvore, e eu comi.” Que tipo de resposta insolente é essa? Será que Adão foi audacioso o bastante para dizer a Hashem que pecou e ainda continuará pecando?

Ramatayim Tzofim, em sua explicação do Midrash, ensina que Adão – a própria criação das mãos de Hashem – se desculpou diante Dele e admitiu que continuava propenso ao pecado, pois ainda não havia se refinado espiritualmente. Ele escreve: “Esta é uma lição importante para a pessoa, que deve ter consciência de si mesma e não ser tão ignorante a ponto de se enganar.”

Esse é um pensamento profundo, especialmente porque muitas pessoas não conseguem se enxergar sob a luz da verdade.

Vemos, então, que embora a resposta de Adão a Hashem pareça ousada, na realidade é digna de elogio, pois ele disse a verdade e reconheceu sua fraqueza. Adão se avaliou corretamente e, portanto, não se enganou. Tal autoavaliação sincera é agradável a Hashem.

Após cada tropeço, pecado, explosão de ira, demonstração de egoísmo, ato de mesquinharia ou qualquer comportamento similar, Hashem nos faz a pergunta mais penetrante: “Onde estás?” Em outras palavras: “Que conclusão tiras sobre tua situação atual? Compreendes que és vulnerável à tua má inclinação e que ela tem te dominado?”

Hashem não faz essa pergunta apenas depois de cairmos; nossa alma Divina – uma pequena centelha da bondade de Deus, nossa força vital – também nos questiona sempre que precisamos escolher entre caminhos. Mesmo quando vemos ou ouvimos sobre alguém que fez algo terrível, nossa alma grita de dentro de nós: “Acreditas que és melhor do que ele? Saiba que poderias ter cometido o mesmo erro. Pensas que és tão justo que estás acima do pecado?”

Com olhos de emuná, percebemos que tudo o que vemos, ouvimos e vivenciamos é uma mensagem de Hashem nos pedindo reflexão: “Onde estás?” Quando a pessoa reconhece o quão perigosa é a má inclinação e o quão facilmente o ser humano é levado ao pecado, ela pode tomar as precauções necessárias. O soldado que subestima o inimigo acabará sendo surpreendido despreparado.

Adão, como vimos, não se enganou. Ele sabia que era suscetível a pecar novamente. Por isso, Adão se tornou o primeiro baal teshuvá – penitente – do mundo, pois foi honesto com Hashem e consigo mesmo.