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quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Toldót – O Caçador e Sua Boca

Estes dois irmãos, quando eram pequenos, aparentemente eram iguais, mas ao crescer notou-se a diferença: “E Esaú foi um homem hábil na caça, e Jacó era simples e...

Rabino Iosef Meta

Estes dois irmãos, quando eram pequenos, aparentemente eram iguais, mas ao crescer notou-se a diferença, como escreve a Torá: “E Esaú foi um homem hábil na caça, e Jacó era simples e permanecia nas tendas”…

O caçador e sua boca

A porção semanal trata do nascimento dos filhos do patriarca Itzjak (Isaque), que eram gêmeos e se chamavam Esaú (Esav) e Jacó (Iaacov).

Essas crianças, quando eram pequenas, aparentemente eram iguais, mas ao crescer notou-se a diferença, como escreve a Torá: “E Esaú foi um homem hábil na caça, e Jacó era simples e permanecia nas tendas”.

Mas ele não caçava apenas com as mãos, mas também “caçava com a boca” (Gênesis 25:28). Ou seja, tinha uma oratória habilidosa, falava muito bem, mas seus atos não condiziam com suas palavras. Até mesmo seu pai, Itzjak, foi enganado, como veremos.

Mais adiante, Esaú volta do campo, cansado, e encontra Jacó cozinhando lentilhas (um alimento tradicionalmente consumido em períodos de luto, assim como o ovo, por ser redondo, simbolizando o ciclo da vida). Nem sequer pergunta por que Jacó está cozinhando lentilhas; em vez disso, pede: “dá-me um pouco desse vermelho”. Jacó então propõe dar-lhe algo em troca: que Esaú lhe venda seu direito de primogenitura. Assim foi feito. E mesmo após comer, Esaú desprezou a primogenitura.

O que é a primogenitura? Qual é o seu significado? Esaú arrependeu-se da venda em algum momento? [Deixamos estas perguntas aos nossos leitores para que nos contem; se D'us quiser, na próxima semana daremos a resposta correta.]

No final da Parashá, fala-se das bênçãos que Itzjak desejava conceder ao envelhecer e perder a visão. Ocorre então um episódio muito estranho: Jacó, aparentemente, engana seu pai. Por ordem de sua mãe, ele se faz passar por Esaú, engana Itzjak e toma as bênçãos destinadas a Esaú.

Quando Esaú descobre, enfurece-se e decide consigo mesmo: “Após a morte de meu pai, matarei Jacó”. Por esse motivo, Jacó foge para Aram Naharaim.

O que é tudo isso? Por que ele fez isso? Será que não sabia que Esaú perceberia? Por que Rivka (Rebeca) induz seu próprio marido, Itzjak, a ser enganado? Será que Itzjak não poderia, por si só, ficar irado e, em vez de bênção, proferir uma maldição? Obviamente que sim — ele certamente levaria isso em conta. Portanto, o que nos falta compreender é: qual era a intenção de Rivka com tudo isso?

A chave de tudo está no versículo que diz: “E Itzjak amava Esaú, pois este lhe trazia caça com a boca, mas Rivka amava Jacó”.

A Torá não usa palavras à toa; há aqui uma mensagem que nos permitirá entender. De fato, houve uma discussão entre Itzjak e Rivka, que começou quando “os meninos cresceram” e culminou no episódio do engano. Sobre o que discutiam?

Sobre a educação, o futuro dos filhos e o que se esperava deles. Um dos meninos estava se afastando da educação do lar de Itzjak, do caminho traçado pelo avô Abraão (conforme o Midrash). Esse era Esaú. Rivka sentia que, infelizmente, não havia esperança de que Esaú continuasse no caminho espiritual (a menos que ele próprio o desejasse — o que, segundo o Midrash, não lhe interessava, pois estava “cansado”, talvez por isso nem tenha perguntado por que Jacó cozinhava lentilhas). Por isso, ela amava Jacó, apesar do instinto maternal natural de amar igualmente os dois filhos — como se vê claramente no final da Parashá, onde fica evidente que ela amava os dois.

Itzjak, por sua vez, pensava de forma diferente. Sabia do afastamento de seu filho, mas decidiu dar-lhe ainda mais amor, pois, no fundo de seu coração, tinha esperança de poder encaminhá-lo novamente. E o fato de Esaú “caçar com a boca” contribuiu para enganá-lo. (O Midrash relata que Esaú perguntava ao pai como separar o dízimo do sal, e Itzjak acreditava que o fazia por ser meticuloso nas questões espirituais.)

Por essa esperança, Itzjak não deu ouvidos às muitas advertências de Rivka, que certamente lhe dizia: “Estão te enganando!”

A ponto de o versículo (Gênesis 26:35) relatar que, quando Esaú completou 40 anos, casou-se com duas mulheres hititas. “E isso causou amargura a Itzjak e a Rivka”. Ou seja, Itzjak já sabia que seus netos não seguiriam o caminho de Abraão, pois Esaú havia se assimilado ao casar-se com mulheres de uma cultura totalmente alheia à casa de Itzjak. Mesmo assim, Itzjak decidiu conceder-lhe as bênçãos que recebera de seu pai Abraão, nomeando-o assim como um dos líderes sucessores de Abraão após sua morte.

O que restava a Rivka fazer? Deixar que o futuro da casa de Abraão ficasse nas mãos de um impostor? Certamente que não!

Então, como fazer para mostrar a Itzjak que estavam o enganando e que não deveria transmitir a Esaú as bênçãos que D'us dera a Abraão?

Havia apenas um caminho: demonstrar claramente a Itzjak que, infelizmente, era fácil enganá-lo — talvez só assim ele compreendesse como Esaú o havia manipulado até então.

Para isso, foi escolhido Jacó, que era muito simples e, segundo o Midrash, não queria participar do plano. Essa é a lógica do engano arquitetado por Rivka contra Itzjak — um episódio que teve um desfecho dramático. Quando Esaú chegou e Itzjak percebeu o engano, entendeu naquele exato momento que fora enganado durante todo aquele tempo. Isso fez com que “estremecesse com um grande tremor”, e o Midrash explica que, nesse instante, Itzjak viu o abismo se abrir sob seus pés (Gênesis 27:33).

Ou seja, percebeu que aquele erro o levaria ao abismo. Foi então que compreendeu plenamente a mensagem de Rivka e reforçou ainda mais as bênçãos que havia dado a Jacó, dizendo: “E também ele será abençoado” (Gênesis 27:33).

Fonte: breslev.com

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