A Palestra Semanal – Behaalotechá
O candelabro no Grande Templo tinha sete lâmpadas, correspondendo aos sete traços primários do caráter humano…
Rabi Menachem Mendel Schneerson
O candelabro no Grande Templo tinha sete lâmpadas, correspondendo aos sete traços primários do caráter humano…
Lâmpadas e Vidas – Parashá Behaalotechá
“E D'us falou a Moshê, dizendo: ...Quando elevares as lâmpadas, as sete lâmpadas iluminarão em direção ao centro da Menorá... E esta é a obra da Menorá: era de ouro batido, desde sua base até sua flor era obra de batido...” (- Números 8:1-4) Em três ocasiões diferentes D'us instruiu Moshê (Moisés) sobre a confecção e o acendimento da Menorá (candelabro) no Grande Templo:
No capítulo 25 de Êxodo é dada uma descrição detalhada da Menorá como parte das instruções de D'us quanto à construção do Santuário. Em Levítico 24, D'us ordena a Moshê sobre seu acendimento diário [1]. Finalmente, temos os versículos acima citados de Números 8, que iniciam a seção da Torá que leva o nome de Behaalotechá.
Os versículos de Behaalotechá especificam duas leis da Menorá:
1) Que todas as suas lâmpadas devem se inclinar para seu tronco central ("o centro da Menorá"), e 2) Que a Menorá não seja feita por partes que depois sejam soldadas entre si; ao contrário, todo o candelabro por inteiro – sua base, seu tronco central, seus seis braços e formas decorativas (22 copas, 11 esferas e 9 flores), com uma altura de dezessete Tefajím ("punhos", 136 cm) e pesando um Kikár completo (aprox. 70 kg) – devia ser batido de um único e sólido bloco de ouro. Essas duas leis já haviam sido enunciadas nas passagens anteriores que detalham a Menorá. Sua repetição aqui enfatiza seu papel central na função e no significado da Menorá.
Origem e Objetivo
"A alma do homem é uma lâmpada de D'us" [2]. Como a lâmpada, a função da alma é iluminar seu entorno. A alma, "uma parte de D'us nas alturas, tal qual" [3], é colocada dentro de um mundo e corpo materiais para irradiar sua luz aos confins mais escuros da realidade criada.
O candelabro no Grande Templo tinha sete lâmpadas, correspondendo aos sete traços primários do caráter humano. Algumas almas se destacam na característica de Chésed (amor, benevolência), outras no atributo de Guevurá (autodisciplina, temor a D'us); outras exemplificam Tiféret (harmonia, compaixão), Nétzach (ambição), Hod (humildade, devoção), Yesod (comunicatividade, conectividade) ou Malchut (realeza, receptividade). Juntos, formamos uma Menorá de sete braços, irradiando sete qualidades de luz que preenchem o Templo de D'us e se espalham ao mundo além de seus muros [4].
Esse é o significado mais profundo das duas leis reiteradas nos versículos de Behaalotechá. A segunda lei enfatiza a origem única da diversa comunidade humana. Toda a Menorá deve ser batida de um único bloco de ouro, pois as sete classes de almas derivam de uma fonte única. Todas são igualmente "uma parte de D'us nas alturas, tal qual", em origem e essência uma e a mesma coisa. A primeira lei expressa o objetivo comum do acendimento da Menorá. Todas as lâmpadas se voltam para "o centro da Menorá". Mesmo depois de terem se ramificado em sete lâmpadas distintas, mesmo depois de arderem com sete chamas diferentes, todas se dirigem ao mesmo lugar. Todas anseiam pela mesma meta, apesar das diferenças na natureza e orientação de sua busca.
Duas visões do homem
Dois grandes comentaristas bíblicos, Rashi (Rabi Shlomô Itzchaki, 1040-1105) e Nachmânides (Rabi Moshê ben Nachmân, 1194-1270), diferem em sua caracterização dos versículos de Behaalotechá. Rashi chama esses versículos de Parashat HaMenorá, ou seja, "A Seção da Menorá". Nachmânides, por outro lado, vê seu propósito primário como instruções sobre como acender as lâmpadas. Em outras palavras: segundo Rashi, a razão de ser desses versículos é reiterar a segunda lei, que a Menorá deve ser "obra de batido", uma lei que diz respeito à construção e forma da própria Menorá. Segundo Nachmânides, seu principal propósito é comunicar a primeira lei, que se relaciona com a maneira como as lâmpadas da Menorá devem ser acesas.
A Menorá descreve a comunidade de almas como originando-se como uma entidade singular que depois se ramifica em sete lâmpadas que são diferentes, mas que ainda assim apontam todas para um objetivo comum. Esse quadro geral pode ser visto a partir de duas perspectivas: pode-se enfatizar a origem comum, e ver o foco comum das sete lâmpadas como expressão de sua singularidade intrínseca. Ou, pode-se enfatizar o fato de que essa Menorá singular produziu sete lâmpadas que, mesmo enquanto se esforçam rumo ao mesmo objetivo, o fazem cada uma a seu próprio modo, cada uma com sua personalidade única e distinta. Esse é o significado subjacente à diferença entre Rashi e Nachmânides. Rashi vê a vida como um exercício de unidade. A diversidade da natureza humana não passa de uma ilusão superficial; basta arranhar levemente a superfície para descobrir que, no fundo, todos estamos fazendo a mesma coisa. Essa é a mensagem da Menorá: Tenho uma base e tenho flores; tenho sete braços; mas sou de uma única peça.
Nachmânides, por sua vez, vê importância e valor intrínseco na diversidade da natureza humana. Nossas diferenças não são meros meios para um fim comum, mas um elemento central no propósito da vida. Sim, todos derivamos de um mesmo lugar; sim, todos nos esforçamos rumo ao mesmo objetivo; mas os diferentes caminhos pelos quais trilhamos essa jornada são o que compõe a Menorá da vida, e são, por si mesmos, de valor iluminador duradouro. ___
Notas:
[1] Os versículos de Levítico também aparecem, quase palavra por palavra, em Êxodo 27 (vers. 20-21). Mas como explica Rashi em seu comentário a Levítico 24:2, “Esta (isto é, os versículos de Levítico) é a seção sobre o mandamento do acendimento. A seção 'E ordenarás...' (os versículos de Êxodo) foi dita apenas como [parte das instruções com relação à] obra do Santuário, para explicar a função da Menorá”.
[2] Provérbios 20:27.
[3] Tania, cap. 2, baseado em Jó 31:2.
[4] As janelas do Santuário eram estreitas por dentro e largas por fora (I Reis 6:4. Normalmente, as janelas colocadas em muros espessos de pedra são construídas mais amplas por dentro, para aumentar ao máximo a entrada de luz vinda de fora). Isso, explicam nossos Sábios, simbolizava que o Templo não necessitava de luz externa, mas era em si mesmo uma fonte de luz para o mundo (Rashi sobre o versículo; Midrash Rabá, Levítico 31:6 e Números 15:1).
– Baseado em Likutêi Sijot, Vol. XXVIII, Págs. 60-67. Extraído do livro "O Rebe Ensina", Edit. Kehot – (Com a gentil autorização de www.tora.org.ar)
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