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quinta-feira, 27 de novembro de 2025

A canção de Lea – Vaietze

 Rabi Shimon diz:

“Desde o dia em que Hashem criou o mundo, não houve ninguém que O louvasse até que Lea o fez.”

O quê? Ninguém louvou Hashem até então?

Rabino Shalom Arush

A Guemará diz:

“Rabi Yochanan, que aprendeu com Rabi Shimon Bar Yochai, disse: ‘Desde o dia em que Hashem criou o mundo, não houve uma pessoa que louvasse Hashem até que Lea O louvou, como está escrito: ‘Desta vez louvarei ao Hashem’” (Guemará, Berajot 7b).

O autor do Even Israel , em sua explicação sobre a Torá (Parashat Vaietze), levanta a pergunta:

“Podemos realmente entender esta Guemará de forma literal?”

É verdade que ninguém louvou Hashem até Lea?

Abraham, nosso patriarca, não louvou Hashem?

É surpreendente — especialmente porque há uma exigência haláchica de que a pessoa recite a bênção 'Hashem é Bom e faz o Bem'  após o nascimento de um filho, e sabemos que Abraham manteve toda a Torá, incluindo decretos rabínicos como Eruv Tavshilin  (Kidushin 82). Certamente ele louvou Hashem quando teve um filho!

Muitos conhecem o Midrash que diz que Adam cantou Mizmor Shir LeYom HaShabat  (Tehilim 92 — “É bom louvar Hashem!” ) quando viu que seu arrependimento foi aceito.

É difícil aceitar literalmente que grandes pessoas antes de Lea não louvaram Hashem.

Além disso — por que Lea não louvou Hashem por seus filhos anteriores?

A intenção da Guemará não é dizer que Lea foi a primeira a louvar Hashem pelo bem recebido.

Nossos antepassados ​​certamente O louvaram por Sua bondade.

E Lea também O elogiou quando seus outros filhos nasceram.

O ensinamento é outro:

Lea foi a primeira a louvar Hashem pelo sofrimento — pelo que parecia ser ruim na vida.

Lea passou por muitas dores.

Todos diziam que ela estava destinada a casar com o perverso Esav.

Ela chorou sem cessar, rezando para não se casar com ele — seus olhos se enfraqueceram de tanto chorar.

Seu próprio pai, Labán, a humilhou ao enganar Yaakov, colocando Lea no lugar de Raquel sob o dossel nupcial.

Ela viveu com a dor de ter sido aceita como esposa sem ser desejada ou amada.

Até o nascimento de Yehuda, Lea carregava um coração ferido — sempre se sentindo inferior a Raquel, que Yaakov desejava desde o início.

Então nasce Yehuda — o quarto filho.

Nesse momento Lea percebe algo profundo:

Enquanto cada uma das quatro mães deveria ter três filhos (totalizando as Doze Tribos), ela recebeu um quarto.

Seu sofrimento, suas lágrimas e sua dor não foram em vão.

Por meio do sofrimento, ela recebeu mais do que todas as outras.

Foi isto que ele disse:

“Desta vez louvarei Hashem!

Louvarei por toda dor que vivi.

Por este filho que trará levitas, sacerdotes e reis.

Obrigada, Hashem, pelo sofrimento – ele valeu a pena.”

Yehuda significa literalmente “aquele que agradece”.

E Yehudim, “judeus”, significa “os que agradecem”.

Nosso próprio nome revela nossa essência: agradecer a Hashem sempre.

Ser judeu é agradecer o dia inteiro — ao abrir os olhos e antes de fechá-los.

Como filhos de Lea, é nosso dever caminhar como ela caminhou.

E ainda assim — uma vida inteira de agradecimento não basta diante de tudo que recebemos.

Que jamais deixemos de agradecer a Hashem

e que nunca cesse nosso louvor.

Amém.

Fonte: breslev.com

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Toldót – O Caçador e Sua Boca

Estes dois irmãos, quando eram pequenos, aparentemente eram iguais, mas ao crescer notou-se a diferença: “E Esaú foi um homem hábil na caça, e Jacó era simples e...

Rabino Iosef Meta

Estes dois irmãos, quando eram pequenos, aparentemente eram iguais, mas ao crescer notou-se a diferença, como escreve a Torá: “E Esaú foi um homem hábil na caça, e Jacó era simples e permanecia nas tendas”…

O caçador e sua boca

A porção semanal trata do nascimento dos filhos do patriarca Itzjak (Isaque), que eram gêmeos e se chamavam Esaú (Esav) e Jacó (Iaacov).

Essas crianças, quando eram pequenas, aparentemente eram iguais, mas ao crescer notou-se a diferença, como escreve a Torá: “E Esaú foi um homem hábil na caça, e Jacó era simples e permanecia nas tendas”.

Mas ele não caçava apenas com as mãos, mas também “caçava com a boca” (Gênesis 25:28). Ou seja, tinha uma oratória habilidosa, falava muito bem, mas seus atos não condiziam com suas palavras. Até mesmo seu pai, Itzjak, foi enganado, como veremos.

Mais adiante, Esaú volta do campo, cansado, e encontra Jacó cozinhando lentilhas (um alimento tradicionalmente consumido em períodos de luto, assim como o ovo, por ser redondo, simbolizando o ciclo da vida). Nem sequer pergunta por que Jacó está cozinhando lentilhas; em vez disso, pede: “dá-me um pouco desse vermelho”. Jacó então propõe dar-lhe algo em troca: que Esaú lhe venda seu direito de primogenitura. Assim foi feito. E mesmo após comer, Esaú desprezou a primogenitura.

O que é a primogenitura? Qual é o seu significado? Esaú arrependeu-se da venda em algum momento? [Deixamos estas perguntas aos nossos leitores para que nos contem; se D'us quiser, na próxima semana daremos a resposta correta.]

No final da Parashá, fala-se das bênçãos que Itzjak desejava conceder ao envelhecer e perder a visão. Ocorre então um episódio muito estranho: Jacó, aparentemente, engana seu pai. Por ordem de sua mãe, ele se faz passar por Esaú, engana Itzjak e toma as bênçãos destinadas a Esaú.

Quando Esaú descobre, enfurece-se e decide consigo mesmo: “Após a morte de meu pai, matarei Jacó”. Por esse motivo, Jacó foge para Aram Naharaim.

O que é tudo isso? Por que ele fez isso? Será que não sabia que Esaú perceberia? Por que Rivka (Rebeca) induz seu próprio marido, Itzjak, a ser enganado? Será que Itzjak não poderia, por si só, ficar irado e, em vez de bênção, proferir uma maldição? Obviamente que sim — ele certamente levaria isso em conta. Portanto, o que nos falta compreender é: qual era a intenção de Rivka com tudo isso?

A chave de tudo está no versículo que diz: “E Itzjak amava Esaú, pois este lhe trazia caça com a boca, mas Rivka amava Jacó”.

A Torá não usa palavras à toa; há aqui uma mensagem que nos permitirá entender. De fato, houve uma discussão entre Itzjak e Rivka, que começou quando “os meninos cresceram” e culminou no episódio do engano. Sobre o que discutiam?

Sobre a educação, o futuro dos filhos e o que se esperava deles. Um dos meninos estava se afastando da educação do lar de Itzjak, do caminho traçado pelo avô Abraão (conforme o Midrash). Esse era Esaú. Rivka sentia que, infelizmente, não havia esperança de que Esaú continuasse no caminho espiritual (a menos que ele próprio o desejasse — o que, segundo o Midrash, não lhe interessava, pois estava “cansado”, talvez por isso nem tenha perguntado por que Jacó cozinhava lentilhas). Por isso, ela amava Jacó, apesar do instinto maternal natural de amar igualmente os dois filhos — como se vê claramente no final da Parashá, onde fica evidente que ela amava os dois.

Itzjak, por sua vez, pensava de forma diferente. Sabia do afastamento de seu filho, mas decidiu dar-lhe ainda mais amor, pois, no fundo de seu coração, tinha esperança de poder encaminhá-lo novamente. E o fato de Esaú “caçar com a boca” contribuiu para enganá-lo. (O Midrash relata que Esaú perguntava ao pai como separar o dízimo do sal, e Itzjak acreditava que o fazia por ser meticuloso nas questões espirituais.)

Por essa esperança, Itzjak não deu ouvidos às muitas advertências de Rivka, que certamente lhe dizia: “Estão te enganando!”

A ponto de o versículo (Gênesis 26:35) relatar que, quando Esaú completou 40 anos, casou-se com duas mulheres hititas. “E isso causou amargura a Itzjak e a Rivka”. Ou seja, Itzjak já sabia que seus netos não seguiriam o caminho de Abraão, pois Esaú havia se assimilado ao casar-se com mulheres de uma cultura totalmente alheia à casa de Itzjak. Mesmo assim, Itzjak decidiu conceder-lhe as bênçãos que recebera de seu pai Abraão, nomeando-o assim como um dos líderes sucessores de Abraão após sua morte.

O que restava a Rivka fazer? Deixar que o futuro da casa de Abraão ficasse nas mãos de um impostor? Certamente que não!

Então, como fazer para mostrar a Itzjak que estavam o enganando e que não deveria transmitir a Esaú as bênçãos que D'us dera a Abraão?

Havia apenas um caminho: demonstrar claramente a Itzjak que, infelizmente, era fácil enganá-lo — talvez só assim ele compreendesse como Esaú o havia manipulado até então.

Para isso, foi escolhido Jacó, que era muito simples e, segundo o Midrash, não queria participar do plano. Essa é a lógica do engano arquitetado por Rivka contra Itzjak — um episódio que teve um desfecho dramático. Quando Esaú chegou e Itzjak percebeu o engano, entendeu naquele exato momento que fora enganado durante todo aquele tempo. Isso fez com que “estremecesse com um grande tremor”, e o Midrash explica que, nesse instante, Itzjak viu o abismo se abrir sob seus pés (Gênesis 27:33).

Ou seja, percebeu que aquele erro o levaria ao abismo. Foi então que compreendeu plenamente a mensagem de Rivka e reforçou ainda mais as bênçãos que havia dado a Jacó, dizendo: “E também ele será abençoado” (Gênesis 27:33).

Fonte: breslev.com

domingo, 16 de novembro de 2025

Apenas um depósito

A pessoa que tem emuná sabe que Hashem é Quem lhe dá tudo o que possui.

Rabi Shalom Arush

A pessoa que tem emuná sabe que Hashem é Quem lhe dá tudo o que possui. Essa pessoa entende que o dinheiro que Hashem lhe concede, na verdade, não lhe pertence, mas é apenas um depósito que Hashem fez com ela para verificar se fará o uso adequado desse dinheiro. E, quando Ele vê que essa pessoa é uma depositária fiel e o utiliza corretamente, então Ele a escolhe como canal por meio do qual derramar toda a Sua abundância e toda a Sua compaixão sobre Suas criaturas. Assim, Hashem coloca dinheiro em suas mãos para que o distribua da maneira apropriada: uma parte para sustentar sua própria família e outra parte para causas de caridade.

No entanto, quando alguém tem uma emuná fraca e se considera o único dono de seus bens, agindo com avareza e recusando-se a ajudar os outros, então Hashem vê que não se pode confiar nessa pessoa e, às vezes, chega até a retirar todo esse dinheiro dela e depositá-lo nas mãos de outra.

Conta-se sobre o Rebe de Apta que certa vez foi visitado por um homem pobre que precisava casar sua filha e, para isso, necessitava de uma quantia considerável. O Rebe disse-lhe que fosse procurar certo milionário e, para isso, redigiu uma carta solicitando ao milionário que fizesse uma doação ao pobre no valor exato necessário para o casamento da filha.

O pobre dirigiu-se à mansão do milionário, explicou o motivo de sua visita e entregou-lhe a carta. O milionário leu a carta, ofendeu-se profundamente e, com o rosto furioso, devolveu-a ao pobre, resmungando: “Quem ele pensa que é, seu rabino, para me dar ordens? Acaso meu dinheiro pertence a ele? Onde está escrito que devo obedecê-lo? Se tivesse me pedido uma quantia razoável e se expressado de forma mais respeitosa, fazendo um pedido em vez de me dar ordens, eu não teria nenhum problema. Mas ele está me ordenando, claramente, que eu lhe dê uma soma astronômica, como se fosse dono dos meus bens… Vá e diga-lhe que não tenho obrigação alguma de obedecê-lo…”.

Totalmente humilhado, o pobre saiu da mansão do milionário. Foi então diretamente à casa do Rebe de Apta e contou-lhe tudo o que acontecera. O Rebe suspirou e disse ao pobre que fosse à casa de um de seus discípulos e transmitisse a ordem do Rebe para que lhe desse determinada quantia em dinheiro (muito menor do que aquela que havia pedido ao milionário).

O pobre foi ver o discípulo e percebeu que este vivia numa casa muito humilde. Era óbvio que não teria como lhe dar nem mesmo aquela quantia modesta indicada pelo Rebe, mas, evidentemente, não quis contrariar a ordem do Rebe e, por isso, entrou na casa e transmitiu a mensagem.

O discípulo, assim que ouviu as palavras de seu Rebe, imediatamente levantou-se e exclamou com alegria: “É claro! É claro! O Rebe me deu uma ordem! Vou ver imediatamente o que posso fazer. Sente-se e descanse um pouco, enquanto vou correndo arrecadar essa quantia inteira!”.

Imediatamente, o discípulo foi contar à esposa que o Rebe havia ordenado que dessem ao pobre tal quantia para ajudá-lo a casar sua filha. Os dois conversaram por alguns minutos e combinaram que ela procuraria em casa algo que pudessem vender. Enquanto isso, o marido iria percorrer a cidade, casa por casa, pedindo às pessoas que o ajudassem a arrecadar a quantia indicada, para assim cumprir esse preceito tão elevado de ajudar um casal com as despesas do casamento.

Passadas duas horas, o discípulo retornou com uma quantia considerável, à qual somou o dinheiro que sua esposa conseguiu vendendo os candelabros de prata que recebera de presente de casamento – surpreendentemente, o montante total era exatamente o valor indicado pelo Rebe.

Tanto o discípulo quanto sua esposa alegraram-se imensamente pela grande oportunidade que tiveram de ajudar outra pessoa e por terem cumprido os desejos do tzadik. Obviamente, o pobre também se alegrou e emocionou-se muito com a generosidade e o bom coração daquele casal, e ainda naquele mesmo dia saiu para arrecadar mais dinheiro, até que logo conseguiu a quantia necessária e pôde casar sua filha com dignidade.

A partir daquele episódio, o discípulo do Rebe de Apta, que com tanta abnegação ajudara o pobre, viu que a fortuna começou a lhe sorrir, e assim teve muito sucesso na vida, aumentando cada vez mais sua riqueza, até se tornar um grande milionário. Por outro lado, o milionário que se recusara a obedecer à ordem do Rebe começou a sofrer revés após revés nos negócios, até perder toda a fortuna e, em pouco tempo, não ter sequer dinheiro suficiente para levar pão à mesa…

Então, sua esposa lhe disse: “Tudo isso é um castigo por você não ter obedecido ao Rebe de Apta e por tê-lo desrespeitado. Vá vê-lo e peça perdão. Talvez consiga apaziguá-lo e recuperar sua fortuna e seu prestígio.”

O ex-milionário ouviu a esposa e foi procurar o Rebe de Apta. Ao chegar, entrou no quarto com a cabeça baixa, cheio de vergonha. O Rebe recebeu-o com grande afeto e perguntou-lhe o motivo da visita.

O ex-milionário pediu-lhe que, por favor, o perdoasse por tê-lo desrespeitado.

O Rebe perguntou de que forma o havia desrespeitado.

O ex-milionário explicou que havia zombado da ordem do Rebe, negando-se a entregar ao pobre a quantia que o Rebe havia determinado, e que por isso fora castigado, perdendo toda a sua fortuna.

O Rebe explicou-lhe que, na verdade, não se tratava de um castigo, mas sim de uma traição ao seu dever.

O ex-milionário, perplexo, não entendeu o que o Rebe queria dizer, então o Rebe esclareceu:

“Antes de minha alma descer ao mundo, no Céu foi decidido que eu seria milionário e viveria cercado de luxos e riquezas. No entanto, eu não concordei, argumentando que a fortuna me roubaria tempo precioso e que eu não conseguiria estudar Torá; portanto, não queria ser milionário. Então me disseram que não havia outra alternativa e que minha alma deveria descer com uma grande soma de dinheiro. Mas eu insisti, afirmando que de modo algum aceitaria ser milionário, pois o único que me interessa é estudar Torá e, além disso, minhas necessidades materiais são poucas — então, para que suportar o fardo de administrar uma fortuna?

Na Corte Divina, debateram o que fazer comigo e, por fim, propuseram que eu escolhesse uma alma para depositar minha fortuna em suas mãos — e eu escolhi você. Ou seja, toda a riqueza que você possuía… na verdade, pertencia a mim. Mas, quando precisei de uma certa quantia para dar ao pobre e enviei-o a você para que a entregasse, você recusou-se a fazê-lo… Ao ver que você não era um depositário fiel do meu dinheiro, escolhi um dos meus discípulos, que com muita alegria e grande abnegação me obedeceu, fez exatamente o que lhe ordenei e cumpriu o preceito de dar caridade, e então transfiri minha fortuna para ele.”

O ex-milionário sentiu-se muito mal com a maneira como havia agido e, profundamente arrependido, disse ao Rebe: “Rebe! Toda a minha vida estive acostumado a viver em meio a luxos, e a pobreza me deixa desesperado! Será que o senhor não tem um pouco de sustento para me dar e me salvar dessa terrível pobreza?”

O Rebe sorriu, chamou seu fiel discípulo — que agora era milionário — e ordenou-lhe que fornecesse ao ex-milionário uma mesada suficiente para sua manutenção, permitindo-lhe viver com dignidade. Assim, o ex-milionário voltou para casa alegre e com a lição aprendida…

Que a luz de Chanucá ilumine sua casa e seu coração com alegria, proteção e abundância.

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

A caverna dupla – Jaiei Sara

Segundo a tradição, Sara não foi a primeira pessoa a ser enterrada na caverna de Maquela em Hebron. Adão e Eva já estavam enterrados ali...

Rabino Abraham Isaac Kook z"tzl

Segundo a tradição, Sara não foi a primeira pessoa a ser enterrada na caverna de Maqupelá em Hebron. Ali já estavam enterrados Adão e Eva. Posteriormente, a eles juntaram-se outras três casais: Abraão e Sara, Isaque e Rebeca, Jacó e Lia.

Por que essa caverna funerária era chamada Maqupelá? Maqupelá significa “duplicado”. Os Sábios, em Eruvin 53a, explicaram que se trata de uma caverna dupla, que contém duas câmaras ou dois níveis. O Talmud relata que um erudito arriscou-se a entrar na caverna e ali encontrou os Avot (os Patriarcas e as Matriarcas) em uma câmara, e Adão e Eva na segunda.

O que significa que a caverna de Maqupelá tenha duas câmaras? De modo geral, qual é a função do sepultamento?

Dois caminhos

Há dois caminhos para o crescimento espiritual e a iluminação, cada um com suas próprias vantagens. O primeiro caminho utiliza nossas faculdades naturais de raciocínio e análise. Quando funcionam corretamente, nossas faculdades intelectuais podem alcançar resultados maravilhosos. Elas nos permitem adquirir preciosas qualidades de caráter e servir a Deus por meio de uma consciência interior.

No entanto, a mente está ligada ao corpo e por ele influenciada. Quando o corpo se entrega aos desejos de prazeres físicos, a mente também perde sua orientação. Esses desejos físicos podem distorcer nossas percepções e deformar nosso raciocínio, deixando-nos sem orientação para uma vida iluminada.

Por isso, Deus criou um segundo meio para o progresso espiritual: a Torá. A Torá é independente do corpo físico, não sendo afetada por suas inclinações e desejos. É um guia imutável rumo ao caminho da integridade e da santidade. Certamente, os poderes da mente humana jamais conseguirão proporcionar o mesmo nível de santidade alcançado por meio das instruções dadas por Deus na Torá e em suas mitsvot.

Contudo, o caminho do intelecto humano ainda possui uma vantagem especial. A observância das mitsvot, embora muito elevada, não exerce influência direta sobre o próprio corpo. O corpo continua sendo atraído pelos desejos físicos e permanece em desacordo com os objetivos espirituais da Torá.

O ideal é combinar os dois métodos. Se nosso cumprimento das mitsvot puder despertar nossos corações e inspirar nossas mentes, estabelece-se uma harmonia entre nossas ações físicas e nossa consciência interior. Como nossas faculdades mentais fazem parte de nossa natureza essencial, quando a mente se conecta com a Torá, a parte física também se integra aos preceitos da Torá. Esse refinamento do corpo não poderia ter ocorrido sem a combinação da Torá com nossas faculdades naturais de intelecto e razão.

A morte e o sepultamento

Após o pecado de Adão, a morte foi decretada sobre a humanidade. Isso não foi um castigo arbitrário. O propósito da morte é separar o corpo e a alma, permitindo que ambos sejam reparados e refinados. A alma, já livre do peso dos desejos físicos do corpo, é reparada e refinada no Mundo das Almas.

O corpo também exige uma correção espiritual. Ele também foi formado à imagem de Deus e possui um imenso poder espiritual quando complementado pela santidade da alma. Enquanto a alma é corrigida no Mundo das Almas, o corpo é reparado por meio do sepultamento, ao retornar aos seus elementos originais.

O refinamento do corpo

O que isso tem a ver com a caverna de Maqupelá? O sepultamento na caverna dupla é uma metáfora dos dois métodos pelos quais o corpo é refinado e elevado.

O primeiro método, que utiliza a inteligência e a razão humanas, é exemplificado por Adão e Eva. O primeiro homem e a primeira mulher foram criados com o mais alto nível de talentos e poderes primordiais. Com suas robustas faculdades mentais, eles representaram o uso do intelecto e do raciocínio naturais para o avanço espiritual.

Os Patriarcas e as Matriarcas, por sua vez, deram origem ao povo judeu, preparando o caminho para a revelação da Torá no Sinai. Eles representam a segunda orientação espiritual: a da Torá.

A caverna funerária dupla de Maqupelá combinava esses dois caminhos. Uma câmara continha Adão e Eva, o ápice da capacidade intelectual natural. A segunda câmara abrigava os Avot, os progenitores da Torá. O nome da cidade, Hebron, deriva da palavra jibur (“conexão”), aludindo à união desses dois modos de elevação do corpo.

Fonte: Breslev.com