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sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Nossos dias e o passar da vida

O Rei David escreve no Tehilim (Salmos 90/10) que: “os dias da nossa vida são setenta anos e se forem com Guevurot (durezas) serão oitenta anos”, o versículo continua com as palavras: “a melhor parte desses dias é gasta com esforço e sofrimento porque esses anos passam rápido e voando”. Vemos que a expectativa de vida mundial também oscila em volta desses números.








O Zohar nos conta que no momento em que a pessoa falece é dada a ela, a permissão de ver a dimensão que ela não conseguia ver antes. Ela vê seus parentes e amigos que já estão no Gan Éden (Paraíso), e eles se revelam para ela com a aparência que tinham neste mundo para que ela possa reconhecê-los. Se essa pessoa era um “Tzadik” todos vêm alegres ao seu encontro e o cumprimentam com a palavra “Shalom” que quer dizer paz.

A palavra Tzadik tem vários significados, e nesse caso se aplica a uma pessoa que passou pelo julgamento do tribunal Divino e saiu vitoriosa. A aplicação desse termo em relação à pessoa que está deixando esse mundo, se refere ao fato de ela ter saído de forma justa do seu julgamento. Passamos por esse julgamento no momento em que a Alma deixa o corpo.

Os motivos para uma pessoa sair vitoriosa do julgamento do tribunal Divino, são o fato de ela ter se arrependido em vida das coisas ruins que fez, e por isso receber um grande desconto nos sofrimentos que deveria passar para retificar essas coisas ruins; e também pelo fato de ela ter sofrido “medida por medida” e retificado dessa maneira todo o mal que fez nesse mundo.

As coisas boas que uma pessoa fez para ter direito ao Gan Éden (Paraíso Espiritual), raramente se perdem; exceto se tiver se arrependido profundamente de tê-las feito, o que geralmente não acontece. A retificação pelas coisas ruins que fizemos são no máximo “medida por medida”, e não mais do que isso, e não existe castigo eterno. Mas para as coisas boas que fizemos recebemos uma recompensa eterna.

Quando a pessoa falece com o mérito da recompensa eterna, ela é recebida com muita alegria pelos seus parentes e amigos que vêm especialmente do Paraíso para recebê-la. Mas se ele não foi um Tzadik, as únicas pessoas que se revelam para ele no momento da morte, são as pessoas ruins que estão sendo temporariamente atordoadas no “gehinon”, o qual é o lugar da retificação das Almas. Nesse caso todos aparecem para ele tristes, o recebem com um grito de dor e se despedem com um grito de dor. Ele olha para eles e os vê como fagulhas que sobem do fogo, e ao vê-los ele também dá um grito de dor.

Diz Rabi Shneior Zalman, nosso primeiro Rebe: “sempre devemos nos relacionar aos sofrimentos deste mundo com alegria”. Porque não existe sofrimento de verdade, a não ser o do gehinom. Um pouquinho de sofrimentos neste mundo nos livra dos verdadeiros sofrimentos que são os sofrimentos do gehinom. Mesmo sendo o gehinom limitado a 12 meses e não mais, a intensidade dele é muito grande e uma hora lá equivale a setenta anos dos maiores sofrimentos aqui nesse mundo.

Referente ao nosso assunto (falecimento); depois que todos os parentes e amigos se encontram com muita alegria com a pessoa que faleceu, levam-na para um passeio lá no mundo de cima e mostram o lugar reservado para ela no Gan Éden (Paraíso), depois ela volta para o este mundo, para o enterro do seu corpo.

Rabi Yehuda no Zohar, nos conta que após o enterro a Alma ainda continua sete dias neste mundo, e todos esses sete dias ela vai da sua casa para o seu túmulo e do seu túmulo para a sua casa, e fica enlutada pelo seu corpo que morreu. Ela se senta dentro de sua casa e vê que todos estão tristes e enlutados, e fica enlutada com eles também. Depois de sete dias ela vai para o seu caminho.

Em primeiro lugar, ela chega ao túmulo dos nossos três patriarcas. Esse lugar fica na cidade de Hevron em Israel e é chamado de Mearat Hama’hpela. Lá, diz o Zohar, ela: “vê o que vê” e “sobe para o lugar que sobe” até chegar ao Gan Éden HaTahton, ao baixo Paraíso. Lá ela encontra os Kruvim que são os anjos guardiões do Gan Éden. Se ela tem o mérito de entrar, eles liberam a entrada dela.

A Alma é comparada à Luz, e para ela usufruir do Gan Éden ela precisa de um corpo que é o receptáculo da luz. Da mesma forma que ela precisou do corpo material para interagir aqui no nosso mundo material, ela precisa de um corpo espiritual para usufruir do mundo espiritual, do Gan Éden. Entrando lá ela se encontra com os Anjos Mihael, Gavriel, Uriel e Refael segurando para ela um corpo espiritual lindo feito pelos mandamentos Divinos que ela cumpriu nesse mundo.

Aqui no nosso mundo material temos um corpo feito com os elementos básicos que são o fogo, o vento, a água e a terra, no Gan Éden a alma recebe um corpo espiritual feito para ela com quatro elementos básicos espirituais, e no mérito dos Mandamentos que ela cumpriu. Ela se reveste nesse corpo com muita alegria, e assim ela entra no Gan Éden HaTahton, no baixo Paraíso, onde uma hora lá equivale a setenta anos dos maiores prazeres aqui. Ela fica lá até subir ao Gan Éden HaElion, o alto Paraíso, onde uma hora lá equivale a setenta anos dos maiores prazeres no Gan Éden HaTahton.

Para entendermos essa passagem do Zohar, precisamos primeiro entender o conceito cabalístico de luzes e receptáculos. Hashem (D’us) é a essência do bem e a natureza do bem é fazer o bem. O Zohar chama a revelação Divina de “a luz infinita”. A partir do nível chamado de a “essência Divina” começa uma descida, e a primeira etapa dessa descida é a grande ocultação chamada de “o grande tzimtzum” que é a primeira raiz dos “receptáculos”.

A partir do nível “Essência Divina”, cada descida de nível nesse desencadeamento, até chegarmos ao nível no qual deixamos de ser o “brilho do Sol no Sol”; e já recebemos nossa identidade própria, e nos tornando “Parte de Hashem”, é um paralelo de “luzes” e “receptáculos” até o mundo de Atzilut onde finalmente começamos a existir, e nos tornamos “parte de Hashem”.

Alma animal e Alma Divina

A primeira alma a entrar no nosso corpo é chamada de alma animal, e está vinculada ao sangue. A Guemará nos conta que no momento em que uma mãe engravida, é colocado nesse óvulo uma alma animal do nível deste mundo, onde o bem e o mal estão misturados. Essa alma animal está revestida em todo o corpo, mas a principal revelação dela é no sangue, no lado esquerdo do coração, que bombeia o sangue oxigenado para todo o corpo. Sendo que a alma animal, é uma alma espiritual, podemos fazer transfusões de sangue, transplante de coração, e mesmo assim ela continua no nosso corpo.

Uma segunda alma é dada à cada judeu e também à quem faz uma conversão kasher ao judaísmo. Ela já estava vinculada a essa pessoa desde que nasceu. Essa segunda alma é chamada de Alma Divina (Neshamá). No começo ela está no nosso corpo de maneira “envolvente”. Ou seja, ela está no nosso corpo, mas não está “revestida” nele. Portanto, não recebe a influência das coisas “ruins” que fazemos.

Quando uma menina faz doze anos ou um menino faz treze anos, nossa Alma Divina, que somos nós próprios, deixa a condição de “envolvente” e se reveste na alma animal, e assim tanto a alma animal quanto o corpo se tornam acessórios da nossa Alma Divina.

Toda linguagem na Torá indica um assunto espiritual. Quando D’us coloca essa Alma Divina no primeiro homem é usada a linguagem “soprou”. Diz o Zohar que essa língua é representativa. Quem sopra, sopra o que estava dentro, e quem coloca, coloca o que estava fora. Não está escrito que D’us colocou a Alma no primeiro homem, mas sim que D’us soprou, nos indicando que essa Alma vem da essência Divina e é definida como sendo “uma parte de D’us”.

Essa Alma é você!

Você que desceu do céu para vencer uma corrida de obstáculos que chamamos de vida, e ganhará por mérito próprio um “baixo paraíso” no qual uma hora equivale a setenta anos dos maiores prazeres neste mundo. Se você se esforçar mais, você ganhará um alto paraíso, onde uma hora equivale a setenta anos no baixo paraíso. E tudo isso como prêmio por fazer o trabalho Divino, meta da corrida de obstáculos.

A Neshamá é pura e linda, cada ano que passa ela fica mais refinada e reluzente por meio do nosso cumprimento dos 613 mandamentos Divinos. Poderíamos dizer como exemplo que a cada ano que passa, enquanto o corpo fica mais velho, a Neshamá fica “mais jovem”.

O povo de Israel é chamado de “O povo escolhido”. Mas quem participou desse concurso Divino para ser escolhido? Nossa Neshamá não poderia ter participado, sendo que ela é diferente das almas dos povos do mundo.

Quem se parece com os povos do mundo? Nosso corpo! Ele foi escolhido! E o que ele ganhou com essa escolha? Ele ganhou Kedushá, ganhou santidade! Quando cumprimos um Mandamento Divino ele recebe Kedushá, ele recebe santidade!

A cada Mandamento Divino que cumprimos, nosso corpo e nossa alma animal se tornam mais sagrados e refinados. No futuro, quando ressuscitarmos, este nosso mundo material vai se tornar mais alto Paraiso do que o alto Paraíso, usufruiremos do mais alto nível chamado de Keter de Atzilut. Sendo que esse nível de revelação está acima da raiz da nossa Alma Divina, só conseguiremos usufruir desse nível tão elevado por meio do nosso corpo e da nossa alma animal, pois a raiz deles é o mundo do Tohu que está acima da raiz da nossa Alma Divina.

Com o fenômeno espiritual da “quebra dos receptáculos” do mundo de Tohu, tanto nossa alma animal quanto nosso corpo se tornaram “luzes caídas”; mas mantém o vínculo com a sua raiz, e por isso vamos precisar deles no futuro como um filtro para podermos usufruir da intensidade dos prazeres do Keter de Atzilut.

Fonte: Rabino Gloiber

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