A sagrada Torá não é um livro de história. É um livro de instruções para viver neste mundo.
* Rabino Shalom Arush
A história se repete
A sagrada Torá não é um livro de história. É um livro de horaá — instruções para viver neste mundo. A Torá contém não apenas mitzvot e halachot (leis), mas também relatos e descrições, que também são ensinamentos de vida.
Estamos no meio dos dias do Sefirat HaOmer (a contagem entre Pessach e Shavuot), e de fato, já estamos nos aproximando do final. Para onde estamos contando? A que queremos chegar? À festividade da Entrega da Torá! A contagem é uma preparação para receber a Torá.
A Kabalat HaTorá (a recepção da Torá) não foi um evento único e irrepetível; é algo que se renova a cada ano, e até mesmo a cada dia. Cada novo entendimento que alcançamos, cada aprofundamento no estudo, cada avanço espiritual, cada nova daat (compreensão) que adquirimos: tudo isso é uma pequena Kabalat HaTorá.
Por isso, tudo o que a Torá nos conta sobre o Matan Torá original deve voltar a ocorrer sempre que queremos adquirir uma nova compreensão da Torá, sempre que vivemos um Matan Torá pessoal.
No primeiro Matan Torá, como é sabido, está escrito sobre o povo de Israel: “Vaijan” — “acampou” (no singular) diante do monte. Rashi explica: “Como um só homem, com um só coração.” Isso significa que todo o evento da entrega da Torá no Sinai dependia de que todos os israelitas estivessem completamente unidos naqueles dias tão grandiosos. Isso continua sendo assim até hoje, em cada tipo de Kabalat HaTorá. Por isso, se queremos merecer receber a Torá —tanto de forma pessoal quanto coletiva—, devemos fortalecer a unidade entre nós. Cada aumento no verdadeiro ahavat Israel (amor ao próximo), em olhar o outro com bons olhos, em julgar favoravelmente, constrói recipientes para receber a Torá, ou seja, prepara o caminho para receber uma nova luz, uma nova ideia ou uma emuná (fé) mais clara.
______________ O amor nos torna sábios
Dessa forma, entende-se facilmente o que disse Rabi Nachman: que a segulá para estudar Torá com constância é não falar mal de ninguém. Alguém poderia perguntar: o que uma coisa tem a ver com a outra? Mas de acordo com o que explicamos, isso é muito claro: o ahavat Israel é sempre a introdução para receber a Torá. Somente quando alguém está conectado com todos os judeus com amor, é que pode se conectar com a Torá com amor — e assim recebê-la, aprofundar-se nela e adquirir uma nova data *consciência espiritual.
Por isso também se entende a ligação entre os dias do Ômer e o luto pelos alunos de Rabi Akiva. Pois o propósito destes dias é nos preparar para receber a Torá, nível por nível. E como a recepção da Torá depende do ahavat Israel, esses dias também são de luto pelos alunos de Rabi Akiva, que falharam nesse ponto — de acordo com seu elevado nível. Ao fazer luto por eles, corrigimos essa midá (qualidade) de amor ao próximo, e nos preparamos verdadeiramente para o Matan Torá. Essa é a preparação mais essencial.
______________ Lag BaOmer: Uma nova luz
Segundo isso, podemos ver o grande dia de Lag BaOmer sob uma nova luz. Não é por acaso que celebramos a hilulá (aniversário de falecimento) de Rabi Shimon bar Yochai justamente nesses dias tão sagrados. Quem como ele foi fonte de novas revelações e profundezas ilimitadas na Torá? É literalmente uma Torá nova.
O próprio Rabi Shimon bar Yochai nos revela como mereceu receber aquele Matan Torá. Disse ao seu grupo sagrado: “Nós dependemos do amor.” Ou seja, todas as revelações da Torá e toda a Gueulá (Redenção) dependem da jabrutá, da conexão amorosa entre as pessoas.
E por isso, na santa hilulá de Rabi Shimon, sente-se verdadeiramente o amor e a unidade do povo de Israel ao redor da luz do tzadik, e assim, Lag BaOmer se transforma na nossa plataforma de lançamento rumo ao Matan Torá, um trampolim de ahavat Israel. Hashem te ama sempre
Já falamos anteriormente sobre o ahavat Israel, e escrevemos muito sobre isso. E agora que vemos que a doce e maravilhosa canção “Hashem itbaraj sempre me ama” está sendo recebida com tanta alegria pelas pessoas — essas ideias ganham um significado duplo e triplo. Porque a chave para tudo de bom na vida, para toda emuná pura, para a saúde mental, para toda abundância, é o conhecimento claro de que Hashem ama cada judeu, e ama você pessoalmente, mesmo que você sinta que é o pior de todos.
Assim como você sabe, acredita e entende que Hashem te ama, da mesma forma deve saber que Hashem ama cada pessoa. Então, naturalmente, sua atitude para com todo judeu será de amor, porque assim como você é amado e valioso para Hashem, também é cada um. Quando você vê qualquer pessoa — um amigo, um vizinho, alguém que reza na mesma sinagoga, ou até mesmo a pessoa mais distante —, o pensamento central que você deve ter é: “Sei que Hashem o ama, sei que ele é importante e muito querido por Hashem, sei que também ele dá satisfação a Hashem, e que Hashem quer o melhor para ele, e ainda mais, e melhor.”
E quando você olha assim para outra pessoa, começa a amá-la imediatamente. Saber que Hashem me ama: essa é a chave para tudo. Por isso, o conhecimento de que Hashem itbaraj sempre me ama é uma chave central para o ahavat Israel. E como toda recepção da Torá depende de estar conectado com todo o Am Israel — como dissemos —, o conhecimento claro de que Hashem me ama é a chave para a Kabalat HaTorá.
Tzadikim do amor
Rabi Shimon bar Yochai foi discípulo de Rabi Akiva, e ele é quem nos ensinou: “Ame ao seu próximo como a si mesmo, esse é um grande princípio da Torá.”
E agora entendemos isso com uma nova profundidade: o que significa que o ahavat Israel é um princípio tão grande? Significa que é a condição para receber a Torá, para crescer nela, para ter sucesso e para alcançar uma verdadeira compreensão. Não à toa, Rabi Akiva foi o maior de todos na Torá.
E todos os tzadikim que trouxeram ao mundo uma Torá profunda e maravilhosa, o ahavat Israel foi o seu guia. Por isso, o Ari HaKadosh acrescentou uma declaração antes de rezar: “Aceito sobre mim a mitzvá positiva de amar ao próximo como a mim mesmo.” E o lema do Baal Shem Tov e de todos os ensinamentos chassídicos é o ahavat Israel e a importância infinita de cada judeu.
Terminamos com uma declaração surpreendente do Tzemach Tzedek: “Quem ajuda um judeu a ganhar setenta copeques vendendo bezerros — ou seja, até mesmo em algo pequeno e material —, todos os portais dos mundos superiores se abrem para ele.” Aumentemos nosso ahavat Israel com o espírito e a força de Rabi Shimon bar Yochai, e com esse mérito, receberemos a Torá e se cumprirá em nós sua promessa: “Com este livro, o Zohar, sairão do exílio com misericórdia.” Amém, que assim seja.
Nenhuma prece se perde – Emor
Se você acredita – você reza! E mesmo que vejamos que rezamos por algo por muito tempo sem resultados aparentes, na verdade, nenhuma prece se perde...
Moshe Neveloff
No segundo ensinamento de seu livro, Likutei Moharan, Rabi Nachman traz o primeiro versículo da porção da Torá desta semana no início de seu ensinamento sobre a prece e a redenção. “Hashem disse a Moshé: Fala aos cohanim, filhos de Aharon, e dize-lhes: Nenhum de vós poderá se contaminar com uma pessoa (falecida) de seu povo…” (21:1). Muitas vezes em seus ensinamentos, Rabi Nachman traz um versículo da Torá ou um ensinamento dos Sábios e depois nos mostra, mais adiante, como tudo o que falou está aludido no versículo que trouxe no início. Neste versículo, a palavra “dizer” na frase “Dize aos cohanim”, refere-se à prece.
Rabi Nachman ensina nesta lição que a principal arma que temos é a prece. Todas as batalhas que precisamos vencer, seja com a má inclinação ou com aqueles que tentam impedir que façamos o bem — todas essas batalhas só podem ser conquistadas através da prece. Por isso, Rabi Nachman diz que a pessoa que realmente quer merecer revelar a santidade de ser judeu precisa rezar muito e falar com Hashem. Esta é a principal arma que temos para vencer a batalha contra as forças do mal que tentam impedir que revelemos nossa luz (Likutei Moharan e o Likutei Moharan resumido, 2º ensinamento, primeira parte).
Rabi Nachman também ensina que o principal aspecto de trazer a redenção depende da prece, pois a principal razão do exílio é a falta de emuná (fé). A prece é um aspecto da fé, o que significa que a pessoa acredita que Hashem pode criar e renovar qualquer coisa à Sua vontade, e, por isso, reza a Hashem para que atenda seu pedido. Ao ter uma fé forte, e fé de que nossas preces são ouvidas por Deus, temos o mérito de ver milagres em nossas vidas. Rabi Nachman também ensina nesta lição que a principal revelação da fé está na Terra de Israel (Likutei Moharan resumido, 7º ensinamento, primeira parte).
Nesta época, o Estado de Israel celebra o Dia da Lembrança (Yom HaZikaron) pelos soldados caídos e vítimas do terrorismo e, no dia seguinte, celebra o Dia da Independência (Yom HaAtzmaut). No meu caso, pessoalmente, nos últimos anos tenho considerado esse dia de celebração da nossa independência como um dia para agradecer a Hashem pelo presente de viver na Terra de Israel. Agradeço a Hashem pelas mudanças positivas incríveis que ocorreram em minha vida desde que me mudei para Israel, e pelo mérito de viver aqui. Quando viver em Israel se torna algo cotidiano, como tudo que se torna rotina, tendemos a dar isso como garantido. Naturalmente, nos concentramos em outros aspectos da vida. Por isso, acredito que esses dias especiais do Dia da Lembrança e do Dia da Independência nos ajudam a refletir sobre o significado de viver aqui na Terra de Israel durante essa época tão turbulenta da nossa história.
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