Aquele que realiza uma boa ação está criando um anjo protetor, e aquele que transgride cria um anjo acusador.
Rabino Lazer Brody
“… todos os Seus caminhos são justiça…” (Deuteronômio 32:4)
O Rabino Nisim Yaguen, de bendita e santa memória, contou a seguinte história, de importância fundamental nestes dias sagrados:
Faltavam oito minutos para o horário de fechamento. Todas as mulheres que tinham ido à mikve naquela noite já haviam realizado a imersão, e a encarregada — uma mulher muito enérgica, com pouco mais de trinta anos — já tinha arrumado e limpo o local. Como não havia mais ninguém para atender, decidiu fechar a mikve, especialmente porque naquela noite precisava ir ao casamento de um parente no outro extremo da cidade. Enquanto trancava a porta de entrada com a chave, uma jovem chegou correndo, muito ofegante, e exclamou: “Ah, não! Não me diga que já vai fechar! Saí correndo de casa para vir à mikve porque não tinha ninguém para cuidar do bebê! Por favor, me deixe entrar — ainda faltam cinco minutos para o horário de fechamento!”.
“Sinto muito”, respondeu friamente a encarregada. “Hoje já encerramos. Já terminei de limpar e preciso ir a um casamento. Se eu não sair agora, não chegarei a tempo.”
“A senhora não entende”, retrucou a mulher, com tom de súplica. “Eu observo o Shabat e a pureza familiar, mas meu marido não. Ele é um caminhoneiro muito corpulento, e se tem algo que ele odeia no mundo é ter que esperar duas semanas por mês para conseguir o que quer. Ele não se importa nem um pouco se eu vou ou não à mikve. Se a senhora não me deixar entrar, ele vai me forçar, porque me avisou que não esperaria nem mais um único dia. Eu lhe peço, por compaixão! Se eu não me imergir hoje, terei a mesma punição que comer no Yom Kipur — ou até pior…”.
“Sinto muito, não posso ajudá-la. A senhora deveria ter se preocupado em vir mais cedo.”
“Mas eu cheguei a tempo!”
“Sim, mas quando a senhora terminar, já vai ser meia hora depois do horário de fechamento, e eu tenho outros compromissos esta noite”, disse a encarregada da mikve, apontando para sua roupa de festa e seu colar de ouro, aludindo ao casamento.
“Mas será que a mikve não é a sua obrigação principal? Como a senhora não entende? Sou uma baalat teshuvá (mulher judia que retornou às suas raízes e começou a cumprir os preceitos), e meu marido não. Se eu não me imergir agora, amanhã será tarde demais…”.
Todas as súplicas caíram em ouvidos moucos. A encarregada da mikve trancou o local e entrou em um táxi.
A pobre mulher ficou ali parada, sem acreditar no que acontecera, olhando o táxi se afastar, e então desatou a chorar. Sabia perfeitamente o que a esperava em casa.
Nove meses depois, ela deu à luz um menino. Por mais que tentasse, não conseguiu disciplinar aquela criança tão desobediente, que mais tarde se tornou um homem atrevido e mal-humorado, constantemente envolvido em problemas com todo mundo.
Dezenove anos se passaram desde aquela fatídica noite.
A cidade de Bnei Brak ficou em choque. Uma gangue de jovens delinquentes inventou um esquema de emboscar mulheres que iam a salões de festas. Os ladrões corriam atrás da vítima, arrancavam-lhe os colares de ouro do pescoço. O ouro macio e fino geralmente se rompia com facilidade, e então o ladrão fugia correndo. Mas, dessa vez, o ladrão arrancou do pescoço de uma mulher de cerca de cinquenta anos um colar grosso e trançado de 24 quilates, que não se quebrou tão facilmente. O ladrão puxou o colar repetidamente, mas a corrente não se rompeu. A mulher tentou gritar, mas não conseguia — estava se asfixiando. Por fim, caiu no chão. O ladrão foi preso, mas a mulher perdeu a vida.
A vítima era a encarregada da mikve, dezenove anos depois. O ladrão era o jovem concebido naquela noite em que sua mãe não foi autorizada a entrar na mikve.
Sim, o final não é feliz. É aterrorizante, pois demonstra a profundidade da justiça Divina. O Rabino Eliezer ben Yaakov ensina na Ética dos Pais que aquele que realiza uma boa ação está criando um anjo protetor, e aquele que transgride cria um anjo acusador.
Nossos Sábios ensinam que há certas transgressões que não podem ser corrigidas — aquilo que o rei Salomão chama de “os tortos que não se podem endireitar”, como, por exemplo, a criança nascida de uma relação extraconjugal, que não pode fazer nada quanto ao seu status de mamzer.
Meu querido mestre e guia espiritual, o Rabino Shalom Arush, escreve em seu mais recente livro, “No Jardim da Pureza”, cuja edição em espanhol em breve será lançada, sobre as profundas consequências que as circunstâncias da concepção têm sobre a criança que está por nascer e sobre seu futuro. Este livro deveria ser leitura obrigatória para todo homem.
Em resumo, a partir da história citada, podemos aprender quatro lições fundamentais:
1. O bem ou o mal que fazemos aos outros, cedo ou tarde, volta para nós.
2. As circunstâncias da concepção do bebê — e especialmente a pureza familiar — exercem uma profunda influência sobre a criança e seu futuro.
3. Aqueles que ocupam cargos de responsabilidade pública ou religiosa devem saber que sua função e prioridade principal é servir ao público, e que há coisas que não podem ser negociadas.
4. Assim como nos ensina a porção da Torá desta semana, a justiça de Hashem é absoluta e precisa.
Breslev.com
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