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quinta-feira, 4 de setembro de 2025

A mãe pássaro – Ki Tetzé

**A mãe pássaro – Ki Tetzé**

A mitsvá de deixar ir a mãe pássaro antes de pegar seus ovos ou filhotes ensina uma profunda lição sobre a grandeza da maternidade.

Rabanit Jana Braja Seigelbaum



A mitsvá de deixar ir a mãe pássaro antes de levar seus ovos ou filhotes nos ensina uma profunda lição sobre a grandeza da maternidade. Ibn Ezra afirma que a mãe é essencial, por isso o caçador deve deixá-la em paz e respeitá-la. “Se por acaso houver um ninho de ave diante de ti no caminho, em qualquer árvore ou sobre a terra, com filhotes ou ovos, e a mãe estiver empoleirada sobre os filhotes ou sobre os ovos, não tomarás a mãe com os filhotes. Deverás deixar ir a mãe, mas poderás levar os filhotes, para que te vá bem e prolongues os teus dias” (Devarim 22:6-7).

RESPEITAR A MÃE DA VIDA

Segundo o Ramban, a recompensa por despedir a mãe pássaro é especialmente grande porque esta mitsvá envolve um tema tão profundo e elevado. O Kli Yakar observa que a recompensa por esta mitsvá é idêntica à recompensa por cumprir o mandamento de honrar os pais. Ambas as mitsvot nos ensinam que nenhum ser vem ao mundo sem uma mãe que o trouxe à luz. Essa cadeia de maternidade conduz-nos de volta a Hashem — a Mãe original, Aquela que deu à luz ao mundo. Se o mundo fosse eterno, sem um Criador, não haveria razão para honrarmos nossos pais. No entanto, cremos que a primeira Mãe compartilhou a Sua honra com todas as mães que d'ElA emanaram. Por isso, devemos honrar nossos pais e também despedir a mãe pássaro. Como ambas as mitsvot reforçam nossa crença na criação do mundo, a recompensa por elas é viver uma vida longa neste mundo. Esse é o fundamento da emuná (fé), como está escrito: “O justo viverá pela sua fé” (Habacuque 2:4). Por meio da emuná, apegamo-nos à fonte da vida — e, portanto, a recompensa por isso é viver uma vida longa.

PARA REPARAR O MUNDO

Imediatamente após a mitsvá de despedir a mãe pássaro, menciona-se a construção de uma nova casa. Nossos Sábios explicam essa proximidade da seguinte maneira: se cumprires a mitsvá de despedir a mãe pássaro, terás o mérito de construir uma casa nova, pois esta mitsvá leva-te a crer que D'us criou e construiu o mundo (ver Rashi, Devarim 22:8).

O Rabino Eliahu Kitov pergunta por que a Torá proíbe tirar a mãe pássaro de cima de seus filhotes no ninho, quando em geral permite tirar a vida de qualquer pássaro para atender às necessidades da humanidade. Além disso, por que a Torá demonstra compaixão apenas pela mãe e não pelos filhotes? Ele próprio explica que os filhotes, assim como os ovos, pertencem à humanidade, pois D'us nos fez soberanos sobre todos os animais. Mas por que os seres humanos podem controlar a mãe que paira sobre seus filhotes? A razão pela qual ela não voa e foge da mão do caçador é o seu instinto de proteger os filhotes. Essa mãe dedica-se à criação de seus filhos, que é a forma mais essencial de Tikkun HaOlam (reparação do mundo). Para proteger seus filhotes, a mãe está disposta a arriscar-se a ser capturada pelo caçador. Não é apropriado aproveitar-se cruelmente desse nobre traço de caráter, que D'us imprimiu em Suas criaturas. Por isso, devemos libertar a mãe pássaro. Ela poderá então partir e construir outro ninho, cumprindo assim a vontade do seu Criador ao continuar envolvida na reparação do mundo.

Ainda que a humanidade seja soberana sobre toda a criação, não podemos subjugar o espírito de D'us que Ele concedeu a todas as Suas criaturas. O instinto maternal de proteger os filhotes é considerado a manifestação do espírito de D'us que mantém o mundo em movimento.

NOSSA ALMA É UMA MÃE PÁSSARO LIBERTA

O Ramban apresenta uma razão cabalística para a mitsvá de despedir a mãe pássaro. Ele cita o Rabino Rejmai do Sefer HaBahir, que observa que a Torá dá mais ênfase à mãe do que ao pai. Isso ocorre porque a mãe se refere ao atributo de Biná, muitas vezes chamado de “intuição”, como afirma: “Pois a mãe se chama Biná” (Provérbios 2:3).

Assim como a mãe tem o poder de dar à luz, o atributo de Biná dá à luz às sete sefirot inferiores (emanações divinas), encarnadas nos sete dias da Criação. Esses dias nos ensinam a ter fé em D'us e em Sua providência divina. Assim como devemos libertar a mãe pássaro — que também alude à alma — e deixá-la reunir-se com seu Criador, ela nos lega a sua descendência. Os ensinamentos de fé e as boas ações que adquirimos neste mundo são os filhos da alma.

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