Para que eu preciso ser religioso? Por que não basta ser uma boa pessoa? Não sei se você já ouviu essa pergunta...
Rabino David Charlop
Para que eu preciso ser religioso? Por que não basta ser uma boa pessoa? Não sei se você já ouvido essa pergunta, mas gostaria de compartilhar com você alguns pensamentos sobre o tema. Comecemos com alguns versículos da leitura da Torá desta semana que nos servirão de antecedente.
"Eis que pus diante de ti a vida e o bem, e a morte e o mal… para que ames a Hashem teu Deus, para que sigas os Seus caminhos… e escolhas a vida para que tu e a tua descendência vivam."
Esse versículo é ao mesmo tempo inspirador e um tanto desconcertante. A Torá nos implora que "escolhamos a vida". Será que precisamos que a Torá nos incentive a escolher o óbvio? Só pessoas que não estão bem da cabeça escolheriam o contrário. Além disso, as opções dos versículos parecem extremas: a vida e a morte, o bem e o mal. Existem realmente apenas dois caminhos? De fato, a vida está tão cheia de tons de cinza que fica um pouco difícil nos relacionarmos com versículos que nos pintam a vida em preto e branco.
A leitura da Torá desta semana sempre cai nos dias que antecedem Rosh Hashaná. Há uma pergunta clássica ligada a esse período, que trata das questões mencionadas antes. Os rabinos nos ensinam que em Rosh Hashaná se abrem três livros. O primeiro é para os justos, ou tzadikim, que são imediatamente inscritos para a vida. O segundo é para os ímpios, que são imediatamente inscritos para a morte. O terceiro é para as pessoas que estão no meio, nem totalmente justas nem totalmente más, cujo julgamento é adiado até Yom Kipur. Segundo esse ensinamento, o decreto final é, em última análise, apenas uma das duas opções. Será que é assim de verdade? Há apenas dois caminhos? Além disso, o que acontece com os justos que não chegam a viver o ano todo? Será que eles não são realmente justos?
Você já assistiu às Olimpíadas? Sem dúvida, já foi testemunha de algumas atuações incrivelmente inspiradoras. É provável que tenha visto entrevistas com os vencedores da medalha de ouro que descrevem o longo caminho até conquistar o tão almejado prêmio. Foi fácil o caminho? Invariavelmente, os atletas relatam a longa e dura jornada rumo ao triunfo. Refletem sobre as dificuldades, o anseio pela grandeza e, finalmente, o sabor embriagador do sucesso. É óbvio que ser simplesmente "bom" não tem lugar nas Olimpíadas e não produz vencedores de medalhas de ouro.
Em todos os campos imagináveis — música, teatro, literatura, ciência ou o que for — o objetivo é sempre a grandeza. Ser bom não faz com que um ator ganhe um Oscar, nem que um estadista receba o Nobel da Paz, nem que um cantor consiga lotar salas de concerto. Exigimos excelência em todos os aspectos da vida, mas, curiosamente, quando se trata da própria vida, conformamo-nos em ser simplesmente "bons". Como alguém pode resignar-se a ser apenas uma "boa" pessoa? Não se entende…
Uma das razões pode ser que não temos uma ideia clara de como medir a grandeza na vida, então nos conformamos com "ser bons". Quando Hashem nos pede que escolhamos a vida e o bem, a que Ele se refere? A umas férias nas Bahamas? A ter três Mercedes por família? Tentemos definir a vida e o bem. Creio que chegaremos a uma definição ao definir seus opostos.
Todos conhecemos o famoso relato do Gênesis em que ao primeiro homem foi dito que não comesse do Fruto do Conhecimento e que, se o fizesse, morreria. Adão consumiu o fruto e, eis que não morreu imediatamente. De fato, viveu mais 930 anos. Há várias explicações para entender essa aparente discrepância, mas uma abordagem em particular é relevante para nosso debate. Sabemos que imediatamente depois de comer a fruta, Adão foi expulso do Jardim do Éden e foi enviado a vagar, afastado da proximidade com Hashem que havia sentido enquanto estava no Jardim. Aquele vagar, esse afastamento de Hashem, é a "morte" mencionada na história. Para o judeu, o fator que define a vida e a morte é a proximidade ou o afastamento da Fonte da Vida.
Hashem nos indica nossas opções: a vida e a morte, o bem e o mal, e nos suplica que escolhamos a vida. Não apenas ser "bons", mas conectar-nos à vida eterna que se encontra em Sua Torá. Em essência, Ele nos está dizendo: "Por que se conformar em ser apenas uma pessoa 'boa' se você pode se conectar comigo? Por favor, não faça da mediocridade uma meta de vida". Essa é a escolha que Hashem nos apresenta — uma vida cheia de significado e propósito último, ou a morte, uma existência basicamente sem sentido.
Fonte: Breslev.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário