Nem todas as luzes são iguais. Há luzes que iluminam. Há luzes que ofuscam. Há luzes que mareiam...
Rabino Daniel Oppenheimer
Nem todas as luzes são iguais. Há luzes que iluminam. Há luzes que ofuscam. Há luzes que mareiam…
Uma das coisas que mais mudou a vida do homem moderno é a luz. Não faz tanto tempo que o ser humano despertava e vivia praticamente apenas com a luz natural. A cera para velas era muito cara e era economizada para ser usada em casos de necessidade, para iluminar a noite. Tudo isso mudou. A tecnologia permitiu fazer praticamente as mesmas coisas de dia e de noite. Os aviões decolam e aterrissam a qualquer hora. Passeamos, nos visitamos e… até estudamos à noite. Quer tomar sol e não tem tempo durante o dia? Está nublado? Não há problema! Existem as camas solares.
Isso também trouxe consigo um aspecto negativo. A noite e o impedimento de sair criavam um espaço para a reflexão. A contemplação (e o saber usar o tempo de estar sozinho, sem televisão e sem companhia) fez crescer mais de uma pessoa.
Nem todas as luzes são iguais. Há luzes que iluminam. Há luzes que ofuscam. Há luzes que mareiam. Quando tiramos uma foto, percebemos que uma das coisas importantes a se levar em conta é que não falte… nem sobre luz. Luz excessiva ou insuficiente às vezes pode significar… escuridão.
Os Sábios assinalaram que, quando a Torá se refere aos diferentes exílios aos quais estivemos expostos, o da Grécia (Iaván) é denominado “Joshej” – escuridão. E não por acaso. Iaván é descendente do filho de Noach chamado Iéfet. Iéfet se caracteriza por sua sensibilidade à beleza, às artes, à estética, às estruturas do pensamento e da filosofia, às esculturas. Seu irmão Shem, de quem provém o povo judeu, personifica o nome. O nome das coisas, no idioma hebraico, é a sua essência. As coisas não se definem por palavras convencionais apenas para que todos chamemos os objetos pelo mesmo nome e saibamos o que o outro está dizendo, mas sim pela função Divina que cada pessoa ou objeto possui. Uma arma, por exemplo, pode ser um elemento de defesa para um, um instrumento de trabalho para outro (o assaltante), um objeto “esportivo” para um terceiro ou “mercadoria” para o comerciante que a vende. Cada um a observa a partir de sua ótica pessoal. Quando Adam nomeou os animais, conseguiu compreender sua essência fundamental acima de sua visão pessoal.
Essa diferença entre Shem e Iéfet manifestou-se em Janucá. Iaván (Grécia) queria impor ao mundo uma “religião” na qual as artes, o esporte e a nudez do corpo humano assumiam um caráter religioso. No entanto, na realidade, as artes não deixam de ser aparências e imagens que se procuram projetar. Diferentemente disso, o judeu deve buscar a essência de sua existência, para a qual foi criado. A arte de Iéfet é positiva para acompanhar a essência, não para substituí-la. Quando tenta fazê-lo, transforma-se em algo opaco, em escuridão.
Os Jashmonaim (macabeus) “arriscaram-se” e lutaram porque os gregos haviam proibido a observância do Shabat, de Rosh Jodesh e da Brit Milá (esta última os incomodava particularmente, pois para os judeus representa a submissão do corpo ao espírito, enquanto para os gregos o corpo e sua beleza são o fator central da existência humana). Todos os judeus poderiam tê-lo feito, mas grande parte optou pelo que estava na moda naquela época, que era a cultura do “físico”. Lutaram pela Neshamá (alma) do povo judeu. Restauraram o Bet HaMikdash (Templo).
A Neshamá é chamada de a “vela” Divina que está em nossas mãos. Os macabeus buscaram e encontraram azeite puro. Muito pouco. Não era suficiente para os oito dias necessários para preparar azeite novo. O que se faz em tal situação? Dilui-se? Procura-se um azeite que não seja puro? Não! O azeite deve ser puro, mesmo que seja pouco, mas íntegro e saudável. Acenderam o pouco azeite puro que tinham e… oh milagre! Durou oito dias. Demonstraram que não é a quantidade que define as coisas. É necessária pureza. É possível que, no começo, haja apenas pouca luz. No primeiro dia, a Januquiá está quase vazia. Mas se o azeite é puro, ao cabo de oito dias temos a Januquiá cheia.
A luz genuína da Torá, por um lado, e o brilho aparente da Grécia antiga, por outro, continuam competindo por nossa atenção. Se soubermos fixar nosso olhar, poderemos enxergar com a luz da Torá, sem nos deixarmos ofuscar pelos outros brilhos ocasionais.
(Com a gentil autorização de www.tora.org.ar)
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