Há momentos em que a graça de HaShem está disponível para nós e a oportunidade bate à nossa porta…
Rabino Mordejai Kamenetzky
Há momentos em que a graça de HaShem está disponível para nós e a oportunidade bate à nossa porta…
Uma refeição quente
O livro de Devarim (Deuteronômio) contém basicamente o discurso final que Moshê dirige à nação judaica. Em alguns momentos com brandura, em outros com severidade, Moshê admoeste o povo por seu comportamento e más ações durante os 40 anos em que acamparam no deserto.
Não se trata meramente da repetição da história. Em cada uma de suas frases, podemos extrair uma lição. Até mesmo o prólogo, que enumera as paradas feitas pelo povo em terras áridas onde descansaram, traz uma lição importante.
Um dos reproches mais significativos é o referente ao pecado dos espiões, que, após uma missão de 40 dias na terra de Canaã, retornaram com um relatório assustador que desanimou e desesperou a nação.
A punição de HaShem transforma cada dia da missão de espionagem em um ano de errância no deserto — assim, 40 dias tornam-se 40 anos de caminhada no deserto. Mas Moshê acrescenta uma clareza trágica ao episódio: um grupo de judeus, arrependido de suas ações, imediatamente declarou: "Subiremos e lutaremos, conforme HaShem ordenou." Mas HaShem respondeu: "Não subam nem lutem, pois Eu não estou com vocês." Esse grupo, porém, não obedeceu. Tentou conquistar a Terra Prometida, mas foi derrotado pelos emoritas (cf. Deuteronômio 1:41-45).
Esse episódio é mencionado como parte do pecado dos espiões. Mas será que essa ação não demonstrou um grande amor pela Terra de Israel? Suas ações não foram nobres e corajosas? Por que não tiveram sucesso? Por que HaShem lhes voltou as costas? Suas ações não mostraram arrependimento?
O Rabino Samson Rafael Hirsch explica que o comportamento dos espiões foi o resultado de uma transição da covardia para a presunção. Mas talvez haja aqui uma mensagem adicional.
A história da comida de Shabat
O Rabino Ioshua Fishman, Vice-Presidente Executivo da Torá Umesorá, conta a seguinte história: numa sexta-feira à tarde, o Maguid de Mezeritch havia mergulhado no mikve (banho ritual) quente, em honra ao Shabat. Ao sair do mikve, um aroma maravilhoso chamou sua atenção — um cheiro cheio de sinceridade e devoção. Ele avistou uma pequena cabana e viu uma mulher idosa mexendo uma panela. Foi então que percebeu de onde vinha aquele perfume divino: de um simples frango frito.
Bateu suavemente à porta da cabana e falou com a mulher:
"Querida senhora, há algo especial nesta panela. O aroma que sinto vem da sinceridade com que você mexe, assim como da devoção do shojét (abatedor ritual). A alegria do Shabat está contida nesse manjar. Por isso lhe peço: será que poderia me permitir provar a delícia que você prepara para o Shabat? Por favor, posso eu também comer o mesmo que vocês?"
A mulher olhou fixamente nos olhos do rabino e respondeu:
"Sagrado rabino, sinto muito pesar, mas meu marido espera por essa iguaria durante toda a semana, e meus netos, que vieram de uma cidade distante, estão ansiosos por seu prato favorito. Além disso, teremos o irmão do nosso genro conosco no Shabat. Lamento muito, mas desta vez não tenho sobras para lhe oferecer."
O rabino assentiu solenemente e foi embora.
Passado um instante, a mulher percebeu o que havia acontecido.
"Será que sou uma tola?", pensou. "O sagrado Maguid de Mezeritch quis comer da minha simples refeição, e eu o rejeitei! Pense só: se o Rebe tivesse comido da minha panela, bênçãos teriam jorrado dela como uma fonte! Que tola fui em deixar passar essa oportunidade!"
Imediatamente, a mulher saiu correndo da cabana atrás do Rebe. Ao avistar seu caftan de longe, empurrou a panela para frente e começou a gritar:
"Maguid de Mezeritch! Maguid de Mezeritch! Por favor, leve toda a comida!"
O Rebe virou-se lentamente e deu de ombros.
"Minha querida senhora", suspirou, "adoraria saborear sua iguaria, mas perdi o apetite."
O momento certo
O Ralbag, um comentarista do século XIII, explica que há momentos em que a graça de HaShem está disponível para nós e a oportunidade bate à nossa porta. Isso pode ocorrer em questões espirituais, mas também em oportunidades físicas e emocionais. Precisamos entender que há um tempo certo para tudo.
Moshê lembrou seu povo — e nos lembra até hoje — que devemos estar atentos e responder imediatamente quando a oportunidade chega. O mundo não espera até que estejamos prontos.
Temos a capacidade de milagrosamente superar grandes obstáculos. Mas devemos estar preparados para agir no exato momento em que a graça divina ilumina uma situação de escuridão.
Que possamos reconhecer os momentos de graça quando eles surgirem — e agir com coragem, fé e prontidão.
Fonte: breslev.com
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