A pessoa que tem emuná sabe que Hashem é Quem lhe dá tudo o que possui.
Rabi Shalom Arush
A pessoa que tem emuná sabe que Hashem é Quem lhe dá tudo o que possui. Essa pessoa entende que o dinheiro que Hashem lhe concede, na verdade, não lhe pertence, mas é apenas um depósito que Hashem fez com ela para verificar se fará o uso adequado desse dinheiro. E, quando Ele vê que essa pessoa é uma depositária fiel e o utiliza corretamente, então Ele a escolhe como canal por meio do qual derramar toda a Sua abundância e toda a Sua compaixão sobre Suas criaturas. Assim, Hashem coloca dinheiro em suas mãos para que o distribua da maneira apropriada: uma parte para sustentar sua própria família e outra parte para causas de caridade.
No entanto, quando alguém tem uma emuná fraca e se considera o único dono de seus bens, agindo com avareza e recusando-se a ajudar os outros, então Hashem vê que não se pode confiar nessa pessoa e, às vezes, chega até a retirar todo esse dinheiro dela e depositá-lo nas mãos de outra.
Conta-se sobre o Rebe de Apta que certa vez foi visitado por um homem pobre que precisava casar sua filha e, para isso, necessitava de uma quantia considerável. O Rebe disse-lhe que fosse procurar certo milionário e, para isso, redigiu uma carta solicitando ao milionário que fizesse uma doação ao pobre no valor exato necessário para o casamento da filha.
O pobre dirigiu-se à mansão do milionário, explicou o motivo de sua visita e entregou-lhe a carta. O milionário leu a carta, ofendeu-se profundamente e, com o rosto furioso, devolveu-a ao pobre, resmungando: “Quem ele pensa que é, seu rabino, para me dar ordens? Acaso meu dinheiro pertence a ele? Onde está escrito que devo obedecê-lo? Se tivesse me pedido uma quantia razoável e se expressado de forma mais respeitosa, fazendo um pedido em vez de me dar ordens, eu não teria nenhum problema. Mas ele está me ordenando, claramente, que eu lhe dê uma soma astronômica, como se fosse dono dos meus bens… Vá e diga-lhe que não tenho obrigação alguma de obedecê-lo…”.
Totalmente humilhado, o pobre saiu da mansão do milionário. Foi então diretamente à casa do Rebe de Apta e contou-lhe tudo o que acontecera. O Rebe suspirou e disse ao pobre que fosse à casa de um de seus discípulos e transmitisse a ordem do Rebe para que lhe desse determinada quantia em dinheiro (muito menor do que aquela que havia pedido ao milionário).
O pobre foi ver o discípulo e percebeu que este vivia numa casa muito humilde. Era óbvio que não teria como lhe dar nem mesmo aquela quantia modesta indicada pelo Rebe, mas, evidentemente, não quis contrariar a ordem do Rebe e, por isso, entrou na casa e transmitiu a mensagem.
O discípulo, assim que ouviu as palavras de seu Rebe, imediatamente levantou-se e exclamou com alegria: “É claro! É claro! O Rebe me deu uma ordem! Vou ver imediatamente o que posso fazer. Sente-se e descanse um pouco, enquanto vou correndo arrecadar essa quantia inteira!”.
Imediatamente, o discípulo foi contar à esposa que o Rebe havia ordenado que dessem ao pobre tal quantia para ajudá-lo a casar sua filha. Os dois conversaram por alguns minutos e combinaram que ela procuraria em casa algo que pudessem vender. Enquanto isso, o marido iria percorrer a cidade, casa por casa, pedindo às pessoas que o ajudassem a arrecadar a quantia indicada, para assim cumprir esse preceito tão elevado de ajudar um casal com as despesas do casamento.
Passadas duas horas, o discípulo retornou com uma quantia considerável, à qual somou o dinheiro que sua esposa conseguiu vendendo os candelabros de prata que recebera de presente de casamento – surpreendentemente, o montante total era exatamente o valor indicado pelo Rebe.
Tanto o discípulo quanto sua esposa alegraram-se imensamente pela grande oportunidade que tiveram de ajudar outra pessoa e por terem cumprido os desejos do tzadik. Obviamente, o pobre também se alegrou e emocionou-se muito com a generosidade e o bom coração daquele casal, e ainda naquele mesmo dia saiu para arrecadar mais dinheiro, até que logo conseguiu a quantia necessária e pôde casar sua filha com dignidade.
A partir daquele episódio, o discípulo do Rebe de Apta, que com tanta abnegação ajudara o pobre, viu que a fortuna começou a lhe sorrir, e assim teve muito sucesso na vida, aumentando cada vez mais sua riqueza, até se tornar um grande milionário. Por outro lado, o milionário que se recusara a obedecer à ordem do Rebe começou a sofrer revés após revés nos negócios, até perder toda a fortuna e, em pouco tempo, não ter sequer dinheiro suficiente para levar pão à mesa…
Então, sua esposa lhe disse: “Tudo isso é um castigo por você não ter obedecido ao Rebe de Apta e por tê-lo desrespeitado. Vá vê-lo e peça perdão. Talvez consiga apaziguá-lo e recuperar sua fortuna e seu prestígio.”
O ex-milionário ouviu a esposa e foi procurar o Rebe de Apta. Ao chegar, entrou no quarto com a cabeça baixa, cheio de vergonha. O Rebe recebeu-o com grande afeto e perguntou-lhe o motivo da visita.
O ex-milionário pediu-lhe que, por favor, o perdoasse por tê-lo desrespeitado.
O Rebe perguntou de que forma o havia desrespeitado.
O ex-milionário explicou que havia zombado da ordem do Rebe, negando-se a entregar ao pobre a quantia que o Rebe havia determinado, e que por isso fora castigado, perdendo toda a sua fortuna.
O Rebe explicou-lhe que, na verdade, não se tratava de um castigo, mas sim de uma traição ao seu dever.
O ex-milionário, perplexo, não entendeu o que o Rebe queria dizer, então o Rebe esclareceu:
“Antes de minha alma descer ao mundo, no Céu foi decidido que eu seria milionário e viveria cercado de luxos e riquezas. No entanto, eu não concordei, argumentando que a fortuna me roubaria tempo precioso e que eu não conseguiria estudar Torá; portanto, não queria ser milionário. Então me disseram que não havia outra alternativa e que minha alma deveria descer com uma grande soma de dinheiro. Mas eu insisti, afirmando que de modo algum aceitaria ser milionário, pois o único que me interessa é estudar Torá e, além disso, minhas necessidades materiais são poucas — então, para que suportar o fardo de administrar uma fortuna?
Na Corte Divina, debateram o que fazer comigo e, por fim, propuseram que eu escolhesse uma alma para depositar minha fortuna em suas mãos — e eu escolhi você. Ou seja, toda a riqueza que você possuía… na verdade, pertencia a mim. Mas, quando precisei de uma certa quantia para dar ao pobre e enviei-o a você para que a entregasse, você recusou-se a fazê-lo… Ao ver que você não era um depositário fiel do meu dinheiro, escolhi um dos meus discípulos, que com muita alegria e grande abnegação me obedeceu, fez exatamente o que lhe ordenei e cumpriu o preceito de dar caridade, e então transfiri minha fortuna para ele.”
O ex-milionário sentiu-se muito mal com a maneira como havia agido e, profundamente arrependido, disse ao Rebe: “Rebe! Toda a minha vida estive acostumado a viver em meio a luxos, e a pobreza me deixa desesperado! Será que o senhor não tem um pouco de sustento para me dar e me salvar dessa terrível pobreza?”
O Rebe sorriu, chamou seu fiel discípulo — que agora era milionário — e ordenou-lhe que fornecesse ao ex-milionário uma mesada suficiente para sua manutenção, permitindo-lhe viver com dignidade. Assim, o ex-milionário voltou para casa alegre e com a lição aprendida…
Que a luz de Chanucá ilumine sua casa e seu coração com alegria, proteção e abundância.
